O auxílio luxuoso da filosofia
Filósofos sorriem muito pouco.
Gargalhar então, somente de escárnio.
São gente séria demais.
Tanto que grande parte deles vive na Alemanha.
Antes viviam na Grécia.
Já tentou entender grego ou alemão?
Filósofos têm ideias complicadas e nomes tão complicados quanto.
Tente escrever o nome completo de um deles sem errar.
Por exemplo, o de Nietzsche.
Friedrich Wilhelm Nietzsche, acertou?
Os filósofos são sérios demais, sabe por quê?
Carregam sobre os ombros o peso de toda a inquietação humana, do início da civilização até nossos dias.
Pensando melhor, carregam esse peso sobre a cabeça, não exatamente sobre os ombros.
E pensam demais, quebram a cabeça de tanto pensar.
Nisso os filósofos são bem diferentes da gente:
costumamos quebrar a cabeça dos outros, não a nossa.
Outra coisa: filósofos não resolvem problemas práticos.
Experimente pedir a um deles para consertar seu chuveiro queimado.
Ou o meu, que eu também não sei como consertar.
Alguns deles nem cumprimentam os vizinhos, se fecham em si mesmos.
Outros, têm tendências suicidas.
Então, ninguém nunca viu um anúncio nos classificados dos jornais dizendo: “Procura-se filósofo”.
Claro: as pessoas comuns ficam receosas de trabalhar com um ser tão incomum como um filósofo.
Nunca se sabe o que ele está pensando.
Anedotas sobre filósofos são raras.
Também são bastante diferentes.
Não podem ser muito engraçadas, senão perdem a graça.
Têm de fazer pensar, parecer inteligente, isso sim.
É aí que o filósofo entra.
A filosofia ajuda a tornar a anedota inteligente.
Para isso os filósofos servem muito bem.
Quanto ao meu chuveiro vou ter de chamar um eletricista mesmo.