Macacos me mordam
Pelado, de David Sedaris, editora Lugano, 2005, é seguramente um dos livros mais criativos que já tive em mãos.
O texto que dá título ao volume relata uma de suas experiências de vida mais brochantes.
E também mais engraçadas – uma semana num campo de nudistas.
Outro texto hilariante desse mesmo livro é Planeta dos Macacos.
Sedaris escreve sobre o conhecido filme de 1968, estrelado por Charlton Heston.
Diz que viu a fita nove vezes, de tanto que a apreciava.
Vi o filme apenas três vezes.
E feito Sedaris, mas sem seu talento, de cada vez sempre me vinha alguma ideia à cabeça, uma pequena história derivada da ficção ímpar de Pierre Boule.
Que é o autor francês do livro no qual o filme foi livremente baseado.
A mais recente:
A doutora Zira, uma das poucas personagens que mostra simpatia pelo astronauta Taylor, papel de Heston, num dos interregnos da aventura conversa com ele.
E lhe diz que está na hora de os humanos reverem um de seus ditados mais usados.
“Qual?” quis saber Taylor.
“Aquele um que diz que macaco que muito pula quer chumbo.”
“Como assim, doutora?”
“Assim: macaco que muito pula nem sempre quer chumbo.
Pode estar querendo voar, feito o Dumbo.”
E Taylor:
“Caramba: nunca imaginei que a fama desse elefantinho pudesse ir tão longe, até outros planetas do sistema solar! E a história daquele veadinho, o Bambi, também já chegou por aqui?”
"Não conheço, como é?"
"Bambi sai passeando pela floresta, cumprimentando todos os seus amiguinhos animais, até topar com uma formiguinha que carregava uma folha imensamente maior do que ela. Então, Bambi diz à formiguinha:
- Bom dia, amiguinha! - Ao que ela, mal educada, retruca:
- Sai pra lá, viadinho!"
Taylor começa a rir, a gargalhar como se alguém tivesse lhe atirado pó de mico.
Zira não entende muito bem a coisa e pergunta:
"Mas, afinal de contas, esse tal de Bambi era um veadinho ou um viadinho?"
E Taylor, rapidamente:
"Hum, da vida particular dele eu não sei nada... Nem quero saber!"