A lei acima da indignação

Cerca de 500 idosos acamados com convid em Alegrete/RS não foram vacinados porque os veterinários, biólogos e outros profissionais de saúde que nunca estiveram na linha de frente, foram vacinados e aí, faltou vacina.

Aqui na minha cidade, uma amiga com menos de 50 anos foi admitida como auxiliar administrativo (!!) num hospital. Já se vacinou. Duas psicologas e um psiquiatra, também. Todos eles estavam em quarentena domiciliar. Isso só do pessoal que conheço.

Faltou vacina pra minha sogra de 93 anos, saudável, ainda ativa sem nenhum sinal de senilidade com três filhos sessentões e quatro netos e netas. Ou seja, tem uma vida pela frente. Corre o risco de morrer estupidamente, porque gente que não estavam no grupo de risco tomou seu lugar na vacinação.

Quando demonstro minha indignação, minha vergonha por ter amigos assim, sou defenestrado com a máxima "É a lei, Raffert! É a lei!". Não, não é lei. É uma disposição emergencial que muitos de nós, aristocráticos da epidemia, a distorcemos em benefício próprio.

A senhora Russef recusou a furar a fila. Parece (?) que o presidente do STF deu uma freada nos companheiros juristas.

Como já disse antes, estou cercado por pessoas humanistas que odeiam o próximo e perderam a capacidade de se envergonhar. Cidadania? Pra quê?

Pergunto ao amigo Carqueja, aqui do Recanto, o que fazemos nessa trágico-comédia? Rimos?