Anais de Saturnino...
Temido por sua corpulência tanto quanto por seu impreciso juízo, o Saturnino, com esse nome planetário de pouco carecia para exorbitar.
Com ou até mesmo sem sem razão, o populacho de Lagoa o temia, e bem sabia que não podia ser à toa.
E o caso de sêo Amador só fez reforçar esse temor:
Duma feita, andando pelo matagal circunvizinho da cidade, ao adentrar uma capoeira, deu de cara com o engenhoso Saturnino, de faca na cintura, a rodear um pobre coitado, já totalmente pelado, a um galho de árvore amarrado, e literalmente de matéria fecal todo esvaziado...
Saturnino, que não pareceu nada surpreso à chegada de Amador, a quem conhecia de ver pelas ruas do pacato burgo lagoense, valeu-se da ocasião para lhe perguntar se aquela novilha estava boa para ser abatida...
Vencido o choque inicial, Amador teve força e espírito para indagar ao iminente açougueiro:
- Uai, Saturno, eu acho que está bem no ponto...mas me diga uma coisa, cê já ofereceu a carne dela aí pra freguesia...?
Ao que Saturnino se deu conta de sua falha, um tanto encabulado:
- Uai, sêo Amador, é mesmo. Vou cuidar disso agora. Fica aí tomando conta da rês pra mim...