Crime bárbaro - escrito por Denilson Pontadefaca, para o Zeca Quinha Nius
Anteontem, às dez horas, registrou-se, na delegacia de polícia, denúncia contra a editora Novidades Antigas. O denunciante, um homem que não quer se identificar e pretende se conservar incógnito porque tem medo de ataques que lhe podem vir de conservadores, todos agressivos e radicais violentíssimos, e cujo nome não revelaremos, atendendo ao pedido dele, o denunciante, mas o chamaremos pelo cognome João José da Silva João, entregou ao delegado, o senhor Carlos Alberto da Silva Carlos, um exemplar do livro Educação Conservadora, em qual há, nas páginas dezesseis e dezessete, uma matéria que provocou estarrecimento e enervamento e preocupação. E João José da Silva João, de imediato, suando frio, preocupado com a educação das crianças brasileiras, rumou para a delegacia de polícia, e lá revelou o conteúdo do livro que, infelizmente, foi distribuído em todas as escolas brasileiras; mas, no entanto, todavia, e entretanto, para a sorte das crianças brasileiras e de seus cuidadores e cuidadoras, o governo brasileiro pode, dentro de pouco tempo, recolhê-los, evitando, assim, que os livros caíam nas mãos das crianças, e a estas atormente a consciência ao implantar-lhes idéias antiquadas e prejudiciais ao seu bem-estar físico e mental.
O livro tem, nas páginas dezesseis e dezessete, um texto de autoria de Tomás Crisóstomo da Silva Tomás defendendo uma educação inapropriada para o mundo moderno. Tomás Crisóstomo da Silva Tomás ensina, numa lição desmesuradamente extemporânea em defesa de uma educação primitiva, do tempo das trevas medievais: as crianças brasileiras têm o dever de respeitarem os seus pais e as suas mães; devem-lhes obediência. O descaso dos pensadores conservadores com a modernidade é proverbial, e o teor do livro Educação Conservadora não nos surpreende; preocupa-nos, sim, a ousadia do seu autor e a da editora Novidades Antigas, que, além de publicar o livro, o distribuiu, nas livrarias e nas escolas, às crianças. O ministro da educação criticou a editora.
A onda conservadora está a prejudicar o Brasil, nação que, de três anos para cá, tem conquistado o lugar de liderança no mundo, de proeminência entre as nações em desenvolvimento, influenciando decisões mundiais, e falando grosso com os Estados Unidos.
Nota de rodapé: Este artigo foi escrito há não sabemos quantos anos, mas só agora o publicamos no nosso hebdomadário digital Zeca Quinha Nius, e damo-lo à público, e não antes, porque só agora o publicamos para o público, e não o conservamos em mãos de seu autor, unicamente.