Passatempo
_Eduardinho, eu estou indo ali no guichê de informações rapidinho. Fique aqui um instante, ou o Dani não vai ver ninguém quando voltar do banheiro, tá?
_Pode deixar, vovó...
Eduardo sentou-se no banco do aeroporto aborrecido. Odiava quando a avó falava com ele naquele tom. Ele já estava com oito anos, caramba!
Ao seu lado, havia uma pasta, que parecia ter sido esquecida. Sobre ela, havia muitos papéis e alguns lápis e borrachas. Curioso, Eduardo leu o que estava escrito. Eram contas e mais contas, sendo que, em um papel amarrotado, parecia haver o enunciado que gerou todas elas.
O garoto leu com atenção, franzindo a testa. Pegou um lápis e, insensivelmente, começou a fazer suas próprias contas no papel amarrotado. Seu irmão chegou do banheiro e perguntou onde estava a avó deles, mas não obteve nenhuma resposta. A própria D. Cecília precisou chamar energicamente o nome do garoto por várias vezes antes de ser respondida. Por fim, com um breve sorriso cândido, Eduardo devolveu o papel para a pasta e tratou de seguir a família.
_O que você estava fazendo, posso saber? _D. Cecília perguntou, severa.
_Alguém esqueceu um papelzinho com um passatempo ali do meu lado. Não era muito difícil, mas até que deu pra distrair.
_Quantas vezes tenho que falar para você não mexer nas coisas dos outros?! _agarrou a orelha do neto e torceu. _Será que essa é a única coisa que você é incapaz de aprender rápido?
_Ai, ai! Desculpe, vó! Eu não resisti...
Seguiram aos trancos e barrancos. Eduardo fazia votos de chegar em casa logo para escrever uma solução ainda melhor e mais elegante para o passatempo. Ele sabia que ela existia e tivera aquela idéia antes mesmo de terminar a solução anterior.
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_Eu “ter” certeza que “deixar” minha pasta aqui.
_Não, é essa, senhor?
_Sim. Oh! Algum criança “escrever” minhas notas sobre Conjuntura de Poincaré! _o senhor contraiu fortemente as grossas sobrancelhas e ficou vermelho-cereja. _É meu trabalho mais importante!
_Pelo menos, a criança só escreveu _o funcionário do aeroporto tranqüilizou-o. _Pode voltar para a Rússia em paz, agora, senhor.
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Em 2003, sete anos depois, o russo Grigory Perelman resolveu completamente a Conjuntura de Poincaré e se tornou o feliz ganhador da medalha Fields (o nobel da matemática) e do um milhão de dólares oferecido a quem responde um dos “problemas do milênio”.
Por algum motivo, ele recusou os dois prêmios, alegando "não ter feito nada de extraordinário".
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1102865-EI238,00.html