O comilão
Papai (1921-2016), já na idade mais avançada, tornou-se ainda mais fã duma piadinha. Gostava também das charadas novíssimas e dos causos. Gostava de conversar, enfim.
Uma de suas mais recorrentes contações era a de um índivíduo que mantinha um restaurante popular e que, naturalmente, tinha sempre um olho no prato e outro no caixa. E não haviam ainda inventado a tal comida a quilo. Comia-se daquilo sim que era servido em travessas grandes e pronto. O preço da refeição era fixo.
Duma feita notou, um senhor que, desacompanhado, comia vorazmente. E pensou numa providência eficaz para dar cabo aquela farra, senão, estava quebrado.
No passo seguinte estava sentado à mesa, defronte o comilão. Simulando comer também, num pratinho bem raso, foi direto ao seu plano de puxar conversa e ver se o distraía...
E sapecou a pergunta, que normalmente se responde com exposição de fato, idéias e comentários, ou outra pergunta:
- O senhor tem pai?
E a resposta, seca e objetiva demais:
- Nem mãe...!
Mais uma tentativa:
- De que morreram?
A resposta:
- De repente!
E mais uma:
- O senhor veio à cidade a passeio, ou a negócio...
E o que fez nosso inquisidor desistir de prosseguir:
- Ambos...