Ato de humor do Morato...?
O José Morato, pitanguiense da gema, de saudosa memória, é figura emblemática da velha-serranense história. E Velha Serrana alhures e aqui, é Pitangui, o mais antigo município do Centro Oeste mineiro, já com 304 anos de fundação.
Morato era destro e maestro em muita coisa: ensinava História, real e criada, sobretudo, de nossa terra, com sua voz cavernosa que dramatizava ainda mais fatos, fados e boatos; lia o futuro e o condicional nas linhas da mão, e de lonjuras guimarânicas vinha a sua freguesia sequiosa de seu saber antecipatório; e, além de zeloso e afetuoso pai e marido, Morato, se não chegou a ser perfeito, ao menos por um par de vezes, foi nosso Prefeito.
Udenista empedernido, chegou a pedir ao ilustre Governador pessedista que visitava a cidade, Juscelino Kubitschek, que apressasse seu retorno à capital para não asfixiar de vez e completamente a sua digna e leal oposição...
Numa de suas campanhas, em tempos imemoriais que não existem mais, em que adélios e mitos não aconteciam nem com o juízo de fora,
enquanto visitava a casa de três solteironas, impopularmente tratadas por Trabucas, embora trabalhadoras, que viviam na companhia do irmão Juquita, na praça São José, bem vizinha de sua própria residência,
o Morato, entre uma e outra tirada, a café e bolo regada, elogiou a família e, voltando-se para o folgadíssimo varão da casa, fez sua solene promessa:
- Vocês, moças, já estão bem colocadas tanto na fábrica como à janela,
mas para o Juquita, eu prometo arrumar um lugar na Rede (a Rede era Mineira de Viação, que servia à cidade e que viria a ser extinta poucos anos depois, para dar lugar à fome avassaladora das rodovias...)...
O Juquita, mal tendo ouvido a palavra Rede, quase inconformado com o que a sorte lhe reservava em mais um mandato do Morato, reagiu, com o fanho que sempre o distinguiu:
- Rede...? Mais quem é que vai me balangá...?