1 Conto de Humor que faz-me Rir

Uma coisa repetitiva, corriqueira no cotidiano e discussões dos filósofos de boteco, é a recordação de tempos idos. É sempre uma farra, regada à cerveja, forró ou samba, celebrada com churrasco e os papos de infância; quando não, sobre o que deixaram para trás. Por exemplo, estando eles no Brasil, digo São Paulo, nas rodas de nortistas e nordestinos, sempre vem à tona os bens, as riquezas materiais que ficarão na cidade de origem.

Quando o assunto é riqueza, um é sempre mais poderoso que os demais. O primeiro diz: Estou aqui, mas em breve voltarei para o meu torrão. Lá tenho 201 cabeças de gado leiteiro; cavalos de montaria numa enorme fazenda, herança de meu pai. Para se ter ideia da dimensão, a casa sede possui mais de 300 m2; fora varanda e a churrasqueira. Coisa fina".

O segundo não deixa por menos e atira impiedosamente: Tomara que ele viva décadas e mais decadas, mas meu pai é cacaueiro no sertao da Bahia. Acima dele, só a família ACM. Produção intensa. Faturamento máximo. Vim para São Paulo estudar agronomia, para futuramente administra-la. Sabe como é: o olho engorda o bolso do patrão".

Entre goles e goladas, assim segue o grande encontro. Estando esses mesmos no Norte ou Nordeste com um carro comprado através da biblia de 60 à 100 versículos, cada um reúne com os familiares e amigos e tome churrascada, cervejada e prosa. Como estão lá, falam dos bens que possuem em São Paulo. Contam que são legítimos donos de shoppings; palacetes em bairros nobres; carros de luxo, mas que foram com aquele por causa das estradas esburacadas, etc. "Não vou botar minha ferrari em estradas para carroças. - rasgando um pedaço de picanha, caem na gargalhada.

- e as favelas nos morros, onde atiram e a mãe não ouve, Deus me livre; vejo o Datena e fico horrizada, cumade Benvina.

- sim, realmente São Paulo, Rio, as capitais em geral; mas nossas mansões estão cercadas por muros altos; segurança 24 horas. Chamamos aquilo de bunker alemão.

Para realçar a verdade, abrem a internet e mostram lojas de carros; a fotografia do Park Burle Max e manias mais. Porém se alguém pede para traze-los para conhecer São Paulo; ter contato com a riqueza descrita, descartam logo dizendo que estão com muito trabalho, viagens para o exterior; reformas nos palácios, etc.

- infelizmente agora não dá para levá-los cumpadre Teodoro. Estamos até a garganta de trabalhos. Filhos estudando no exterior; conclusão da primeira etapa do projeto "Tick as brick". Enfim uma loucura, mas é aquilo que mostramos na internet e no tissapp. - e após um brinde, louvam a Deus.

Após a despedida dos parentes, conformados e satisfeitos pela consideração, contentes por terem sido visitados e com o poderio econômico adquirido por eles, os que ficam comentam como os amigos e parentes se deram bem no Brasil, ou melhor, em São Paulo: "Norinda, Norinda, mia fia, como Zeinha tá bem de vida. Saiu daqui com uma mão na frente e outra atrás, tapando as vergonhas e agora está esbaldando no dinheiro. Uma coisa é certa, Norinda, Cumpade Zeinha sempre foi trabalhador".

- Verdade Tiofin. Deus que potreja ele sempre!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 18/10/2018
Reeditado em 20/10/2018
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