O CABARET DE ODETH

Prólogo

Cena 1

Abre-se as cortinas ao som de um brega antigo, o cenário é de um Cabaret decadente, mas que um dia já foi muito elegante e garboso. Três prostituas estão em cena, Cessa Preá faz as unhas, Adelaide lábios de mel apara os pelos do cantinho e Juju furacão dorme de boca aberta.

Adelade – Aiiii, porra!!!

Cessa – O que foi, Adelaide?

Adelaide – Esse barbeador ta cego, Cessa. Quase eu faço uma cabidela da minha “xota”.

Cessa – Cego? Mas ele ta novinho num tem nem um ano de usado. E agora? Como eu vou aparar meu cantinho? Agora lascou, vamos ter que juntar dinheiro pra comprar outro. O Coronel Justino ta vindo aí.

Adelaide – Coronel Justino é o máximo que esse Cabaret tá conseguindo. Um velho gordo e catinguento.

Cessa – Pelo menos é generoso... Se não fosse ele o Cabaret já teria fechado.

Adelaide – (Indo até a geladeira)Eii! Quem comeu meu activia?

Cessa – Fui eu, Adelaide, desculpa.

Adelaide – Ouxente, mas eu nem sabia que tu tinha prisão de ventre.

Cessa – Mas eu não tenho.

Adelaide – E porque tomou?

Cessa – E aquilo é pra quem tem prisão de ventre é?

Adelaide – E se não der certo eles devolvem seu dinheiro.

Cessa – Menina, por isso que me deu aquela diarréia no ônibus. Foi horrível, deu aquele frio na espinha, a gota de suor escorrendo o BARRO MACAXEIRA LOTAAAADO! Pensei que fosse um peido, mas fui traída pelo meu próprio butico, a merda escorreu minha filha. E o povo: Que catinga, que catinga. Aí eu coloquei a culpa num veio que tava sentado dormindo.

Adelaide – Menina, tu é podre.

Cessa – Ah meu amor, num sou pouca merda não. Literalmente. E quem nunca teve uma caganeira no ônibus que atire a primeira pedra.

Barulho de trem.

Cessa – Ui! Que susto! Eu nunca vou me acostumar com esse trem que passa aqui por trás.

Adelaide – Eu também, outro dia, eu tava dormindo levei um susto tão grande que se a merda tivesse pronta eu tinha melado a calçinha.

Juju solta um peido enquanto dorme. As outras tentam descobrir do que é o peido.

Adelaide – Falando em merda...

Cessa – Essa aí fecha o olho e abre o cú. (Sentindo o mal cheiro) E aí?

Adelaide – (Sentindo o mal cheiro) Batata doce!

Cessa – Pra mim foi Frutapão.

Adelaide – Aff! Peido de frutapão fede de mais.

Telefone toca: Entra Odeth, uma coroa, de cabelo acajú. Dona do Cabaret que leva seu nome. Ela é muito elegante.

Odeth – (Entrando indo em direção ao telefone) Meninas, a fossa estourou novamente...

Cessa – Dona Odeth, a fossa hoje não foi culpada. A Catinga vem de dentro dessa aí... (Aponta pra Juju)

Odeth – Eu já mandei ela cuidar desses gases, isso espanta os clientes.

Telefone toca novamente.

Adelaide – (Falando a parte pra Cessa) Como se tivéssemos algum...

Odeth – Adelaide, você falou alguma coisa?

Adelaide – Eu? Imagina. Foi um espirro. Tô tão gripada, deve ser essas viroses...

Odeth – Eu espero. Quem não estiver satisfeita a porta da rua é serventia da casa.

Telefone toca.

Odeth – (Atendendo) Cabaret de Odeth, Bom dia. Onde você encontra as mais belas moças para seu vil prazer. É sim. Posso ajudá-lo? Sei, sei sim. Claro, Coronel Justino é um dos nossos clientes assíduos.

Adelaide – (A parte para Cessa) É o nosso único cliente.

Odeth – Como assim? Mas quando? Não acredito. Jura? Meus sentimentos. Tá bem. Obrigada por avisar. (Desliga o telefone)

Cessa – Alguma notícia triste, dona Odeth?

Odeth – Muito triste, meninas. (Olhando pra Juju e a vê dormindo, pega um copo d’água e joga na cara para despertá-la)

Juju – (Acordando no susto) A Caixa tá esborrando! Desliga a bomba!

Cessa e Adelaide riem.

Odeth – Acorda, rapariga. Tenho uma notícia terrível pra dar.

Adelaide – Aff, Dona Odeth! Me deu até um frio na barriga agora.

Juju – Deve ser verme.

Adelaide – Cala tua boca, chupa ovo.

Juju – Não me chame de chupa ovo. Tá vendo, né Dona Odeth? Num venha não se não eu corto tua cara com uma gilete.

Adelaide – Venha. Tá cega, minha filha.

Odeth – Bora parar de galinhagem. Vocês querem saber ou não?

Cessa – Num ligue pra essas duas não, Dona Odeth. Fale de uma vez.

Odeth – A ligação foi da família de coronel Justino. E sinto em informar que nosso único cliente. Bateu as botas. Morreu, se fudeu, antes ele do que eu.

Cessa – Mas dona Odeth. E agora o que será do Cabaret de Odeth?

Adelaide – A senhora vai fechar?

Juju – Pelo amor de Jesui, eu não tenho pra onde ir patroa.

Odeth – Eu não sei, preciso pensar. (sai)

Cessa – Meninas, e agora? Precisamos elaborar um plano pro nosso ganha-pão não fechar.

Juju – E o que a gente vai fazer? Nenhum homem nesse lugar quer mais comer a gente. E olha que já baixamos o preço até pra cinco conto e nada.

Adelaide – Me lembro quando eu cheguei aqui... Eram de cinco a oito clientes. Mais de vinte putas trabalhando... Bons tempos.

Cessa – Mas isso já faz muito tempo, a gente era novinha e gostosinha e agora só sobrou eu, tu e Juju. E nós que resistimos ao tempo, com rola ou sem rola, precisamos salvar nosso Cabaret.

Juju – Mas você já tem algum plano?

Cessa – Não. Precisamos pensar.

Saem às três.

Música evangélica, entra a irmã Abigail, com muito receio tampando os olhos pra evitar de ver alguma safadeza.

Irmã – Tá amarrado em nome do grande! Onde eu vim me meter? O Pastor me paga. Perdoa meu pai. Mas é a gota d’água me mandar pra um bordel dessa categoria pra... Ah esqueça. Quanto mais rápido eu resolver isso, mas rápido eu vou embora. Ô De casa! A porta tava aberta eu fui entrando.

As três putas entram correndo.

As três – Cliente! Cliente! Cliente!

Olham pra irmã.

Adelaide – A senhora está procurando diversão, é senhora?

Irmã – Me divirto na igreja. Quero falar com a dona do estabelecimento.

Cessa – E qual seria o assunto?

Irmã – Não é da sua conta. Me chame a dona, por favor.

Juju – Olhe aqui, se a senhora não quer se divertir com nenhuma de nós, é melhor ir embora logo, viu? Já pensou se os irmãos vêem a senhora aqui, num Cabaret famoso como esse. Vão pensar que a senhora é PUTA também.

As três riem.

Irmã – Tá amarrado em nome do grande! Minha filha, eu só quero falar com essa tal de Odeth, vá chamar antes que eu perca minha paciência.

Adelaide – E qual seria sua desgraça... Aliás, sua graça?

Irmã – Irmã Abigail. Muito Prazer.

Adelaide – Prazer não. Satisfação, que prazer só na cama.

As três riem.

Odeth entrando

Odeth – Que zuada é essa? Cliente é? Ah, oi irmã...

Irmã – Ele tem um plano na tua vida.

Juju – Plano de saúde?

Odeth – Cala boca, posso ajudar?

Irmã - Claro que pode. Isto é, se você quiser. Tenho uma oferta pra você. Mas precisamos conversar em particular.

Odeth – Claro! Vocês nos dão licença meninas? Meninas? Vão embora, estão surdas? Qual das três que vai dormir sem ventilador hoje?

As três saem correndo, mas, ficam bisbilhotando toda a conversa.

Odeth – Pode falar, irmã. Engraçado, acho que lhe conheço de algum lugar.

Irmã – Impossível, cheguei na cidade faz pouco tempo. E não frequento os mesmo ambientes que vocês. Um passarinho me contou que o seu bordel está fechando.

Odeth – Quem está espalhando essa mentira?

Irmã – Ô, minha querida! Não precisa mentir pra mim. Também soube que você está endividada. Uma dívida que você fez na antiga Mesbla a loja fechou e você num pagou.

Odeth – Calunias!!!

Irmã – Que coisa branca é essa aqui?

Odeth – (Sem graça) Não sei, deve ser... Deve ser leite.

Irmã prova.

Irmã – Não tem gosto de leite. E é salgado, definitivamente não é leite.

Odeth – É leite sim, é porque dessa qualidade a senhora deve tomar pouco.

Irmã - O Pastor me mandou aqui, pois a nossa igreja está crescendo e precisamos de um lugar para congregar. E eu pensei...

Odeth – A senhora está querendo insinuar que quer transformar meu Cabaré... O Cabaret de Odeth fechar as portas pra se tornar uma igreja? A senhora perdeu seu tempo vindo aqui.

Irmã – A oferta é boa. Posso pagar muito dinheiro... Aliás, quem sou eu? O dízimo bancará tudo.

Odeth – A senhora já imaginou o que os clientes vão pensar se o Cabaré fechar?

Irmã – Deixe de estórias, que o único cliente que vocês tinham foi morar ao lado do nosso pai, todo poderoso.

Odeth – Como sabe disso? A senhora anda bisbilhotando meu estabelecimento?

Irmã – Minha filha, longe de mim... As notícias correm rápido. E então? Aceitarás minha proposta?

Odeth – Não sei. Quanto a senhora tem a oferecer?

Irmã cochicha o preço no ouvido de Odeth

Odeth – Isso tudo, irmã? Menina, hoje em dia igreja lucra mais que cabaré. É uma proposta tentadora.

As três entram jogando objetos na irmã

Cessa – Vá embora daqui!

Adelaíde – Some porra. E Não volte nunca mais!

Juju – Vai! Vai! Vai tomar no cú.

A Irmã sai correndo em baixo de curras.

Odeth – Meninas! Tão doidas, é? Fumaram maconha estragada? Porque vocês fizeram isso?

Juju - Dona Odeth, a senhora não pode fechar o Cabarer para transformar logo em igreja.

Cessa – Dona Odeth, precisamos de um prazo, a gente vai conseguir reerguer o CABARET DE ODETH. Vá por mim.

Adelaide – Eu, eu, eu... Concordo com tudo que elas disseram.

Odeth – Mas sem clientes não tem Cabaré. E a proposta da irmã é irrecusável.

As três – Quanto?

Odeth – 100 mil reais.

Juju – Mas isso tudo?

Adelaide – É muito dinheiro.

Cessa – O Cabaret de Odeth vale muito mais que isso. Lembrem-se que trabalhamos no bordel mais famoso de Pernambuco.

Adelaide – E um puteiro dessa categoria não pode fechar as portas.

Cessa – É isso mesmo, Dona Odeth. Nos dê um tempo, nós vamos trazer os clientes de novo. Ou eu não me chamo Cessa Preá.

Odeth – Vocês tem uma semana. Caso não consigam, vou negociar com a irmã e o Cabaret fechará as portas. (Sai)

Cessa – Meninas, vamos começar com um banho!

Juju – Banho? Pra quê banho? Joga um almiska por cima e leite de rosas, pronto.

Adelaida – Porca.

Cessa – Vamos todas tomar banho sim, xoxota fedorenta atrai mosca e as moscas espantam os clientes. Ao Banho. Todas!

Música para o banho, após, elas trocam de roupa.

Cessa – (Penteando os cabelos) Agora temos que vê um jeito de trazer os homens pra cá.

Juju – A gente pode colocar no face.

Adelaide – Antes de eu trabalhar aqui eu tinha um cliente jornalista, posso tentar colocar no jornal.

Cessa – Boa. Começou a liquidação de putas do Cabaret de Odeth! Hoje eu não quero dá. Eu vou distribuir.

Descem até a platéia ao som de “Minha bolseta” a procura de um cliente.

As três, sem sucesso, voltam e se apertam em um sofá de dois lugares.

Telefone toca: As três correm para atender. Juju é quem pega o telefone primeiro.

Juju – Alô! Oi? Quem? (Desliga)

Cessa – Porque você desligou, Juju?

Adelaide – Era algum cliente?

Juju – Não. Era a C&A fazendo cobrança.

As três desanimam

Adelaide – Nosso plano não deu certo. Mesmo com essa liquidação nem sinal de rola, nem cheiro...

Cessa – Meu Deus! Onde estão os machos deste lugar??? Eu quero dá meu priquito!

Entra um rapaz desconfiado, cara de donzelo.

Rapaz – Bo-bo-bom dia. É aqui o Ca-Ca-cabaret de Odeth?

As três – É sim.

Cessa – Você está em busca de diversão?

Rapaz – Ah, vocês que são as moças que-que-que... Que trabalham aqui? As pu-pu-pu... Putas?

Adelaide – É um donzelo.

Cessa – Cala tua boca. É cliente. Preferimos, profissionais do sexo, delícinha.

Juju – Estamos na liquidação, viu? Gostoso!

Rapaz – Sabe o que-que-que é... Eu ainda sou vi-vi-virgem.

Adelaide – Virgem? Nessa idade meu filho?

Rapaz – Eu nu-nu-nunca tive com mu-mu-mulher nenhuma. Só com uma cabra que tinha lá na fazendo do meu avô. Num sei se vocês conhecem, Coronel Justino.

As três – Coronel Justino???

Cessa – É rico. É rico.

Juju – Sabe o que é rapaz, a liquidação acabou por hoje, e então voltamos ao preço normal.

Rapaz – Não tem Pro-pro-problema. Eu posso pagar muito be-be-bem quem cu-cu-cuidar bem do meu pintinho, piu.

Adelaide – E você já escolheu alguma de nós, delícia? Não é por nada não, mas a minha habilidade com a boca e pescoço é coisa de outro mundo. (Simula movimentos de sexo oral)

Cessa – Mas ele quer aquela que faça o serviço completo, né? BBC.

Rapaz – BBC?

Cessa aponta para o boca, buceta e pro cu.

Rapaz – Ahh! Isso Muito-to-to me interessa.

Juju – E eu gostoso? Você não gostou de mim? Sou a mais novinha das três. Vamos aprender juntos. Hein? Fazer amor bem gostosinho. Eu tive poucos homens na minha vida, sou praticamente virgem também.

Adelaide – Só se for Virgem Maria que oco, um cacho de banana é pouco.

Cessa – Deixem ele escolher.

Rapaz – Eu já-já-já escolhi. Eu quero você. (Aponta pra Juju)

Adelaide – Aff!

Juju – Você não vai se arrepender, gostosinho. Vamos para o quarto?

Rapaz – Eu que-que-queria algo di-di-diferente. Quero que se-se-seja aqui mesmo. Nessa sa-sa-sala.

Juju – Sem problema, Amorzinho. Vocês duas, vazem!

As duas dão muchocho e saem.

Rapaz – Por on-on-onde eu começo?

Juju – Deixa que eu começo pra você. (Agarra o rapaz)

Rapaz – Que Ca-ca-catinga do carai minha irmã. Tem um rato morto na tua bo-bo-boca. Tu deu um trago num tolete, foi?

Juju – Eita menino, é uma ponte que eu fiz.

Rapaz – Apois dê uma o-o-olhada porque tem a-a-alguem cagando em baixo. Quero vo-vo-cê mais não. Assim eu vou bro-bro-broxar. Quero que minha primeira vez seja e-e-especial.

Juju – Mas amorzinho, eu posso escovar os dentes...

Rapaz – Na-na-não. Mesmo que você escove eu vou Lembrar dessa catinga de fu-fu-furico mal lavado.

Entram Cessa e Adelaide morrendo de ri.

Cessa – Ai, Juju! Não foi fazer a higiene, tá vendo?

Adelaide – Ela é assim mesmo, viu gostosinho? Nunca gostou de escovar os dentes.

Rapaz – Eu quero outra. Quero vo-vo-você. (Aponta pra Cessa)

Cessa – Eu sabia que tu era inteligente. BBC nunca falha. As duas: Vazem!

As outras saem.

Cessa – Vem cá, gostoso. Vem. Humm. Que tanquinho, hein. Eu não quero saber se o Pato é macho, eu quero é comer ovo!!!

Rapaz – Gostosa!

O Rapaz tenta beijar Cessa.

Cessa – Opa, opa. Faço tudo. Menos beijo na boca, gostosinho.

Rapaz – Como assim?

Cessa – Morro de medo de pegar herpes. Beijo na boca não rola.

Rapaz – Mas minha primeira vez tem que ser pe-pe-perfeito. E sem beijo, ne-ne-nem tem graça. Não quero mais v-v-você não.

Entram Adelaide e Juju morrendo de ri.

Adelaide – Ai, Ai... Cessa, você ainda não perdeu esse pantim? Assim vai acabar sem conseguir nenhum cliente.

Rapaz – Então é sua vez. (Aponta pra Adelaide)

Adelaide – Vocês duas: Vazem!

As duas saem

Adelaide – Vou te levar as alturas gostoso.

Barulho de trem.

Rapaz – O que foi isso?!

Adelaide – Não se preocupa, delícia. É uma linha férrea que passa aqui por trás. Mas já passou. Vamos começar? Cadê a bilolinha com fimose, cadê, cadê? CADÊ? Ô Meu filho? Porque essa porra ainda tá mole?

Rapaz – Paciência. Foi o susto.

Adelaide – Eu tenho um remedinho aqui que vai ajudar. (Vai até um criado mudo) Aqui. Esse negocio azul faz milagres, meu filho.

O Rapaz toma o Viagra.

Rapaz – Acho que deu certo, tá dando certo. Eita cibola. Que tesão do caraio, vem timbora rapariga! Eu vou te estragaaar. É hoje que tu vai cagar e mijar pelo mesmo buraco.

Adelaide – Perai, perai. (Pega um pote de mel e despeja por cima da vagina) Você vai descobrir porque me chamam Adelaide, lábios de mel.

Rapaz – E pra quê tu tá colocando isso no teu xibiu?

Adelaide – É pra você provar do meu mel, Zangão!

Rapaz – Mel? Mas eu sou diabético. Vai dá formiga no teu tabaco, doida. Não. Não, eu desisto. As cabras são mais mulheres que vocês, não é possível. Eu vou embora.

Entram as outras duas.

Juju – Não moço, pelo amor de Deus...

Cessa – Você não tá entendendo...

Adelaide – A gente precisa muito que você coma uma de nós... É questão de vida ou morte.

Rapaz – Vocês acham que eu caio nessa conversa? Vocês trepam aí a torto e a direito. Eu vou embora, não gasto meu dinheiro com putas que não sabem trabalhar. Vocês são anti-profissionais. Não é a toa que esse puteiro tá decadente. (Sai)

As três – Ei! Volta! Volta delícinha. Volta gostoso!

Juju – Ai, agora lascou de vez.

Cessa – Nossa única oportunidade foi por água abaixo.

Adelaide – Culpa de vocês que não sabem trabalhar.

Cessa – Mai oia quem tá falando: Adelaide, lábios de mel. Tu só vai parar com essa viagem quando uma abelha confundir teu priquito com uma cômeia e picar teu grelo.

Odeth – (Entrando) Meninas, vamos lá. O Café acabou. Cotinha pra comprar. Se cocem pra arrumar din-din. Bora!

As meninas abrem suas bolsas e procuram moedas. Cada uma procura em um canto da casa.

Odeth – Acho que já dá. R$ 2,50! Vou lá no mercadinho da esquina, se a irmã chegar antes de mim, peçam pra ela esperar. (Sai)

Cessa – A irmã está vindo aí. Eu acho que eu tenho um plano pra espantar essa crente do cú quente daqui.

Adelaide – E Qual é?

Cessa – O que mais os evangélicos abominam?

Juju – Fieis que não colaboram com o dízimo?

Cessa – Fora isso.

Adelaide – Os Frangos?

Cessa – Fora isso.

Juju – O Carnaval?

Cessa – Fora isso.

Adelaide – O diabo?

Cessa – Isso! E diabo lembra o quê? Macumba.

Juju – A gente vai fazer uma macumba pra ela é?

Cessa – Não songamonga. Eu vou pegar aquele lençol branco que usamos pros clientes mais importantes e vou me disfarçar de Mãe de santo. Vocês vão ser as entidades... fazendo vozes, fazendo barulhos... A irmã vai se mijar de medo.

Campanhia toca.

Cessa – Deve ser ela. Eu vou me arrumar. Juju, você recebe ela e a deixe a vontade. E tu vem me ajudar. (Saem Cessa e Adelaide)

Juju vai atender a porta.

Juju – Quem era?

Irmã – Irmã Dolores.

Juju – Se for a campanha do kilo a gente já colaborou ano passado.

Irmã – É a irmã que teve aqui mais cedo.

Juju – (Abrindo a porta) Ahh! Repara a bagunça não. Tudo bem com a senhora?

Irmã – Estaria melhor se eu não tivesse aqui nesse antro do cão.

Juju – A senhora cria cachorro, é?

Irmã – Minha filha, quando falo em cão. Quero dizer: Capeta, Coisa ruim, Satanás, Lúcifer. Entendeu?

Juju – Vixe daqui pra fora e por falar nisso, hoje a nossa mãe veio nos visitar.

Irmã – Que Deus tenha misericórdia dela. Deve ser o maior desgosto ter uma filha rapariga.

Juju – Não, mas é Mãe de Santo.

Irmã – Mãe de Santo?

Juju – (Chamando) Mãe Cessinha?! A irmã quer lhe conhecer.

Entra Cessa vestida de Mãe de Santo, fumando um cachimbo.

Cessa – Vossuncê tá querenu falar com Mãe Cessinha? Tá precisanu fazer algum trabalhu?

Irmã – Não faço trabalhos com quem serve ao Demônio. Tá repreendido em nome do grande!

Cessa – Eu estou vendo em sua áurea, e que áurea feia vossuncê tem, viu, minha fia? Que ocê tá querendu fechar um negocio. FALA MAIS BAIXO! EU JÁ ENTENDI!São meus orixá gritanu no meu ouvido... Eles tão dizenu que tu quer comprar esse bordel pra trasnformar em igreja.

Irmã – É verdade sim. E num tem cão nenhum que vá me impedir, porque meu pai é mais forte.

Cessa – Ihhh! Num é isso que meus incosto tão dizenu aqui no meu pé d’ouvido!

Irmã – (Ficando com medo) E o que eles tão dizendo?

Cessa – Tão dizenu que num vão deixar tu construir igreja por aqui não. Porque antes de ser esse bordel, aqui era um cemitério. E os espíritos todos ainda vagam por aqui. Hihihihi tão dizenu que é uso Ca peão.

Irmã – E você acha que eu vou cair nessa historinha de espírito? Eu não nasci ontem, minha filha...

Uma mesa anda sozinha.

Irmã – O que foi isso?

Cessa – Vossuncê ofendeu os orixá.

Um barulho acontece lá dentro. Vozes de agouro são ouvidas. Uma coruja canta, um gato mia.

Irmã – Sangue de Cristo tem poder! Aqui tá cheio de demônio!

Cessa – Num são demônio não, são almas que procuram descanço, musifia. E como igreja faz barulho que só, eles num querem ocê pur perto.

Irmã – Eu vou embora daqui antes que um encosto desse queira me possuir. Vou dobrar meus joelhos. Tô toda arrepiada. Sangue de cristo tem poder.

Mais barulho e o Trem passa.

Irmã – ME ACOOODE MEU PAI!!! (Sai correndo)

As três comemoram.

Cessa – Será que deu certo, amigas?

Juju – Minha filha pelo peido que ela soltou quando saiu correndo, se não deu certo eu me dane.

Adelaide – Acho que dessa vez salvamos nosso emprego.

Odeth – (Entrando) Ahh logo vi! O que vocês fizeram com a irmã pra ela sair daqui aos peidos? Que porra é essa? Que fantasia feia do caralho minha irmã.

Cessa – Dona Odeth a gente deu um jeito nessa crente e ela nunca mais voltará aqui.

Odeth – Meninas, entendam. Todas as minhas economias acabaram, olhe a que ponto nós chegamos... Fazer cotinha pra poder comprar pó pra café. Vocês não seguram mais clientes nenhum. Vou ligar pra podre da irmã e explicar tudo. Deixa eu descansar que eu estou morta de cansada. Cessa, minha nêga, passa um cafezinho pra gente. (Sai)

Juju – E agora? E Agora? E Agora?

Cessa – Não podemos desistir, vocês ouviram o que dona Odeth disse?

Adelaide – Que a gente tá fudida, e dessa vez não é de tanto trepar?

Cessa – Não. Vocês tem que aprender a arquitetar a situação.

Juju – Como assim?

Cessa – Ela disse que ia descansar porque está morta de cansada.

Adelaide – Certa ela, manda quem pode, obedece quem tem juízo. Vocês acham que eu queria tá aqui olhando pra cara de quenga de vocês? Eu preferia tá agora numa praia paradisíaca, que não desse nenhum farofeiro, onde a praia fosse limpinha, que não tivesse perigo nenhum para os banhistas... Tipo, o Pina.

Cessa – Curaaagem! Quando a irmã voltar, vamos fingir que dona Odeth morreu. Assim a papa igreja desiste, e dona Odeth nunca ficará sabendo de nada. E nosso empreguinho tá a salvo mais uma vez, novamente, de novo.

Juju – Será que ela vai acreditar?

Cessa – Só vamos descobrir se tentar, minha filha. Todas peguem os véus pretos e lenços.

Juju – Pode ser essa fralda que eu uso pra chupar dedo?

Adelaide – Eca! Essa fralda fede mais do que bilola ensebada.

Juju – É o meu cheirinho... Eu gosto.

Campanhia toca.

Cessa – A campanhia.

Adelaide – Porra, eu nem sabia que aqui tinha campanhia.

Cessa – Vamos, todas chorando.

Todas choram exageradamente.

A irmã entra sem entender

Irmã – O que foi que houve agora cambóio de putinhas? Bem a patroa de vocês deu uma lição por terem me dado aquele susto da molétia. Eu vou orar por tudinho, e minha reza é braba. Num tem aquele moço que amputou as duas pernas? Me negou um confeito que ele tava chupando, fui lá e rezei por ele... Olha aí o resultado.

Cessa – Oh meu Deus! Que Deus a tenha em um bom lugar!

Juju – Oh Jesui! Ela era a única família que eu tinha... Agora sou órfã.

Adelaide – Oh god! Me leva no lugar dela.

Irmã – De quem vocês estão falando?

Adelaide – Eu não vou agüentar... Eu vou cortar meus pulsos. (Pega uma faca).

Cessa – Não, Adelaidinha. Temos que ser fortes. Temos que honrar o nome dela, tocando esse negocio pra frente.

Juju – Sem ela, nada será como era antes. Nada.

Irmã – Com licença. Por gentileza, vocês poderiam me explicar quem morreu.

Cessa – A culpa é sua, sua veia do buxo de guarú.

Juju – É, dona Odeth morreu por sua culpa.

Irmã – Odeth morreu?

Adelaide – Morreu, e com certeza foi porque não queria se desfazer do seu bem mais precioso que passou anos para construir.

Irmã – O cú?

As três – O Cabaret de Odeth!!!

Irmã – Bem, meus pêsames. Claro que com isso meus planos mudam, né?

Cessa – Vá simbora daqui. Antes que eu jogue água fervendo nessa cara, a senhora vai ficar a cara de Freddy Kruguer.

Irmã – Calma, meninas... Eu vou, respeito a dor de vocês.

Adelaide – A senhora ainda tá aqui, é?

Juju – Invasão de residência é pecado, viu?

Cessa – A senhora vai queimar no inferno por ter matado a nossa patroa.

Irmã – Disco juro. Mas eu não matei ninguém...

As três – Matou!

Cessa - (pega a chaleira) Vai ficar mais pra tomar um café???

A irmã sai correndo.

As três comemoram.

Cessa – Dessa vez, tenho certeza que espantamos ela de vez.

Juju – Ai que bom! Vou até comemorar! (Solta peido)

Adelaide – Ai, porca! Vai numa igreja, tenta salvar teu espírito que esse teu corpo tá podre.

Juju – Vai te lascar, folote.

Adelaide – Folote? Eu não sou folote. É porque ainda não encontrei um homem com uma rola que me preenchesse.

Juju – Tenta sentar num coqueiro.

Adelaide – Vai fazer gargarejo com ácido muriático, pra vê se tirar essa catinga de boca do carai.

Cessa – Ai, tudo voltou ao normal.

Dona Odeth – (aparecendo) Meninas. Até onde vocês querem ir com isso?

Cessa – Como assim?

Odeth – A irmã me ligou agora, dizendo que eu estava morta. Segundo, minhas funcionárias.

Adelaide – É mentira dela, Dona Odeth.

Juju – Mas a gente num falou mesmo que...

Cessa – Cala boca, Juju. Ela deve ter entendido errado, a gente falou que a senhora estava morta de cansada e que tinha ido descansar. Foi isso.

Edith – Meninas, entendam. Eu não tenho mais condições de segurar o Cabaret. Infelizmente é a mais pura realidade. O Cabaret de Odeth vai fechar.

Trovão, relâmpagos, ventania

As três – Nãããããããão!

Odeth – Vão arrumar suas malas. (Sai)

Juju – E agora o que será de nós? Terminar os últimos dias de puta na Conselheiro Aguiar dividindo espaço com as travestis.

Adelaide – Eu lembro no meu primeiro dia aqui... Era como um sonho trabalhar no Cabaret mais famoso de Pernambuco. Ter belos homens ricos e viver em um local elegante e fino. Hoje o casarão tá parecendo mais o castelo dos horrores. Até a noiva de Chuck tem. (Aponta pra Juju)

Juju – Fecha esse teu cuzinho folote pro meu lado.

Cessa – E eu que vim a pés de sirinhaém com a proposta de trabalhar em uma escola... Quando eu cheguei aqui era um puteiro, mas dona Odeth acabou me convencendo a ficar.

Adelaide – Mas não deixa de ser uma escola. Uma escola de putaria.

Juju – E eu que sempre trabalhei nas ruas? Me prostituo desde os 13 anos, fui vendida por meu pai a um cafetão que traficava meninas e as prostituia. Não via a hora de um dia conseguir sair dessa vida, casar, ter filhos... Mas nunca consegui. Acho que minha sina é ser puta. Essa é que é a verdade.

Música triste em quanto arrumam as malas.

Juju pega uma mala enorme e coloca uma única calçinha fio dental dentro.

Adelaide pega um conjunto de vibradores e joga tudo em uma maletinha

Cessa arranca um pôster de Brunca Surfistinha da parede e guarda na bolsa de sair.

Entra Odeth com uma roupa elegante e uma “mala cheguei” de carrinho.

Odeth – Muito obrigada pela colaboração de cada uma nesse tempo em que trabalharam aqui... Uma pena não poder ajudar vocês.

Cessa – Pra onde a senhora tá indo?

Juju – É deixa a gente ir com a senhora.

Odeth – Tô indo morar com minha irmã, nos coelhos.

Juju – Ah deixa pra lá, então.

Cessa – A gente não quer incomodar não.

Adelaide – Sua irmã mora nos coelhos? E ainda tá viva? Olha aí que coisa boa.

Entrando a irmã

Irmã – Mas que confraternização abominável. Um cambôio de puta reunida. Essas raparigas de cego me enganaram mais de uma vez, mas foi a última vez. Vão virar agora tudo putinha de rua. Cobrando 10 conto pra vê se arruma algum veio buchudo que coma. Odeth eu sabia que você iria fazer a coisa certa. Afinal são cinqüenta mil reais. Aqui está o cheque.

Odeth – Não precisa de cheque.

Irmã – Como assim não precisa de cheque? Vai dá de graça?

Odeth – Dá de graça? Aqui no meu Cabaret? Jamé! Qual é o mesmo o seu nome, irmã?

Irmã – Abigail.

Odeth – Abigail de quê?

Irmã – Abigail... Abigail... Abigail da silva.

Odeth – Tem certeza?

Irmã – E porque eu não haveria de ter certeza do meu próprio nome?

Odeth – Porque eu acho que você não é quem diz quem é.

Irmã – E quem você acha que eu sou?

Odeth puxa o vestido da irmã que está usando uma lingerie sinta liga vermelha.

As três – Oh!

Juju – Amei o modelo, quero um igual.

Odeth – Edith Laruê!Só podia ser você mesmo.

Irmã – Eu não sei do que você está falando.

Odeth – O teatrinho acabou, Edith. Então quer dizer que você queria que eu fechasse o meu Cabaret?

Edith – Claro. Só assim eu poderia reabrir o meu sem concorrência. O Cabaret de Edith faliu por causa desse puteiro de merda. Agora um monte de puta feia. No meu até raparigas que falavam outras línguas tinha.

Odeth – Os homens vem pro cabaret comer priquito e não língua, Edith. Você é muito baixa. Achou mesmo que eu nunca iria descobrir seu plano?

Edith – E o que me denunciou?

Odeth – Quando você saiu aos peidos daqui, com medo dos encostos. Deixou cair isso aqui. (Lendo um cartão) Sex Shop sexapeal, a maior variedades de lingeries vermelhas que você já viu. Achei estranho uma evangélica está andando com um cartão de um sex shop então lembrei que só uma pessoa amava usar sinta liga vermelha. A puta mais invejosa que eu já conheci. Edith Laruê!Mandei as meninas arrumarem as malas pra vê até onde você chegava, mas a palhaçada acabou. Fora daqui.

Edith – Me devolva meu vestido.

Odeth – Pra quê? Eu lembro que você falou que era nua que se sentia mais a vontade. Então vaza, doida! Some antes que eu jogue água quente.

Edith sai correndo

Cessa – Dona Odeth, eu to besta.

Adelaide – Que bafon!

Juju – Então quer dizer que o Cabaret não vai mais fechar?

Cessa – Claro que não, atabacada!

Odeth – Não é bem assim, eu tenho que fechar. Não tenho dinheiro para manter essa casa como cabaret.

Campanhia toca. Cessa vai atender.

Cessa – Era o carteiro. Uma carta endereçada pra senhora dona Odeth.

Odeth – Com certeza é alguma cobrança. (Abre a carta e lê)

Adelaide – Ei dona Odeth diz logo aí o que tem nessa carta.

Odeth – Meninas! Meninas! Meninas!

Juju – Fala logo porra!

Odeth olha pra Juju

Juju – Era eu brincando, patroa.

Odeth – Ah bom, o Coronel Justino, deixou toda sua fortuna pro Cabaret.

Cessa – Como assim?

Adelaide – Quer dizer que estamos ricas?

Odeth – O Cabaret está a salvo. Temos que preparar a reinauguração. Vou ligar pra 102 fm pra anunciar no programa em minha homenagem Odete 102.

Cortina para mudança de cenário.

Edith anda só de sinta-liga e sem um dos saltos pelas ruas resmungando.

Edith – Agora eu, Edith Laruê! Sendo passada pra trás por umas putinhas de beira de estrada, eu to podre mesmo. Aquela expressão: devo ter pisado em restro de rapariga nunca foi tão bem colocada. E esse cheque? Foram anos jogando no PE da sorte, quando eu consigo ganhar num consigo realizar meu sonho...

Trombadinha – Mas eu realizo o meu. (Rouba Edith e sai correndo)

Edith – Filho da puta! Vai roubar tua mãe viado safado! Puta merda, eu sabia que não era pra eu vir pela Dantas Barreto essa hora! (Sai)

Locutor Odete 102 – Olha aí a novidade, o CABARET mais famoso do nosso estado o CABARET DE ODETH tá de cara nova e com uma super promoção. Tu aí macho veio que gosta da raparigagem vai timbora que o tempo é curto pra aproveitar a vida. Odeth minha gostosa, um beijo pra você. Qualquer dia volto por aí pra gente fazer aquela brincadeira gostosa. Agora vamos de Brega. Esse é o Odete 102 meu povo!

Abrem-se as cortinas

Tudo está como novo, plumas, paetês, tudo deve lembrar o clima dos cabarés mais elegantes da frança.

Coreografia final

Fim

25/10/2012