O espalha brasa do samba

A Lapa no Rio de Janeiro estava em festa pela comemoração do primeiro Espalha Brasa do Samba. Além daqueles que fariam as porta-bandeiras rebolar na ponta dos saltos, artistas renomados do samba foram convidados e se não fariam parte da banca avaliadora, estavam na tribuna de honra.

Desceram do morro para incendiar a festa, Zeca Pagodinho e dona Ivone Lara nos vocais; fazendo roncar as cuícas, Bezerra da Silva dando baforadas no baseado ainda apagado e Ivete, que naquele momento estava sem o seu galo . Debulhando as cordas dos cavaquinhos, Sandra de Sá com seu cabelo sarará crioulo e vinda da Vila, Martinho.

O bate-macumba das percussões está por conta de Jorge Aragão e o grupo Partido Alto; pegando carona no grupo, o imprevisível e populista ex-presidente do país, Luís Ignácio o Lula da Silva. Na realidade ele não dá Silva, mas toma dos Silvas, Josés, Raimundos e Raimundas ambos horrorosos de cara e piores ainda de bunda.

No violão, o mais modesto e desencontrado do samba brasileiro: Paulinho da Viola. Acompanhando-o, Chico Buarque de Holambra, porque esse notável músico brasileiro vive mais em Holanda e Alemanha do que no Brasil.

Nos camarotes, empunhando um litro de uísque acompanhado de vinte mulheres, Adriano o imperador de Roma. Honradamente, ao seu lado, empunhando um rifle, (pelo menos de longe é o que parece) não uma escopeta e amigos de churrascada, Vagner Love. Rodeados de veados, que mais parece um zoológico, o fenômeno brasileiro que acabou em nada: Ronaldo. E como convidado mais do especial, puxando as transas e rangendo os dentes devido o bruxismo, Ronaldinho Garucho.

Estático em seu lugar, observando tudo de braços abertos, o Cristo Redentor. O morro do Alemão e de todos os santos está em festa. Sabe-se lá porquê cargas d´água, ou melhor Caixa d´água ex-diretor do Vasco não convidaram o Neguinho da Beija-flor; que bufando pelo bico, veio descendo a ladeira. Com cara de poucos amigos, encontra-os com um sorriso falso de um, rebordosa do outro. Enfurecido, Neguinho berra:

- Olha a jararaca aí, geeeeente!

Ninguém deu a mínima para ele, que ficou ainda mais furioso. Deu uma volta na praça onde o evento estava sendo realizado. Sentou num banco, pensou, pensou, deu uns tapas na coxa, e cada vez que pensava na questão, faíscas de fogo saíam de suas ventas. Voltou ao local. Aproximou-se e berrou: “Olha o corte do Bolsa Família, aí, geeeente!

Como estavam batucando, batucando continuaram. Aquilo deixou o Neguinho indignado. Mas pensava que não ficaria como estava, não iria vender barato aquela desonra. Neguinho tomado pela ira do diabo e a quietude da diabete que necrosa as vísceras do poeta, vocifera:

- Olha a lata de concreto aí, geeeente.

Pasmos, todos os sambista e plateia bateram em retirada. A debandada foi geral; correram para o morro do Vidigal. Esse fato ocorreu ainda no descobrimento do Brasil; portanto a 500 e qualquer coisa de anos e ainda ninguém se atreveu de buscar os instrumentos que estão apodrecendo. Mofos pelo tempo, pois toda vez que vão buscá-los, o sentinela Neguinho, berra:

- Olha a lata de concreto, aí, geeeente!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 28/03/2016
Reeditado em 28/03/2016
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