AGÊNCIA MATRIMONIAL

Meu amigo Caverna, uma alma simples, resolveu abrir uma agência matrimonial, o que era novidade em nossa cidadezinha. Queria ajudar os solitários a encontrar sua alma gêmea. Não dizem que existe sempre um par de chinelos velhos para cada pé? Mesmo quem sofre de gases vai encontrar alguém que adore cheiros exóticos.

O primeiro dia de funcionamento da agência foi um sucesso, muita gente telefonou, uns queriam informações, outros, tirar sarro do Caverna. Ao final, foram registrados dois candidatos, um senhor de manhã e uma madame no final da tarde, ambos desquitados.

O diabo é que, por vergonha ou por constrangimento, não se registrou mais ninguém. E os dois únicos candidatos, para azar do Caverna, eram dois extremos em matéria de preferências. O cavalheiro preferia mulheres altas, e a dama não media mais de que 1,58. Ela buscava um romântico de longos cabelos; ele era careca. E era um pingue-pongue de oposições: ele caseiro, ela festeira; ele campo, ela praia; ele futebol, ela canastra, ele fumante, ela hipocondríaca.

Os dois começaram a cobrar do Caverna o investimento realizado. Ou desencalhe ou dinheiro de volta. O Caverna – o que fazer? – atribuía a demora ao grande número de cadastrados. Estava cruzando informações, logo, logo iriam surgir as respectivas almas gêmeas.

Com o tempo essa desculpa esfarrapou-se, já não colava mais. Chegou a hora em que teve de jogar com a única pedra que possuía: a aproximação dos dois candidatos. Chamou a madame; teceu tantos elogios ao outro, que as diferenças entre eles parece que sumiram. Não, o cavalheiro não era careca, apenas um pouco calvo; não era muito romântico, mas até que sabia recitar umas poesias do Castro Alves.

Quando lhe mostrou a foto, a dama olhou-a horrorizada, quase teve um ataque de uma de suas doenças imaginárias:

– É o sem-vergonha do meu ex-marido!

Com jeitinho, o Caverna foi acalmando a moça. Ela até concordou com um encontro. É claro que, naquelas alturas, já estava chamando o Drácula de meu anjinho. Mas foi o fim da agência matrimonial.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 05/07/2007
Código do texto: T553490
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