Virilidade Animal

Mandu era um touro (garrote) sarado, troncudo, cobridor de quantas novilhas pintasse no pedaço, ou melhor, no verde do pasto. Pulou pra cima, bastavam 9 meses e o número de bovinos no curral automaticamente aumentava. Berrava aos 4 cantos do mundo em ser o deflorador de novilhas. Mandu se considerava, como era, o único.

Mandu envelheceu e perdeu potência. Já não era mais o mesmo: debilitado, cobria uma hoje e a outra perdia a cio. Cheirava, cheirava, sabia que estava no ápice, mas não reagia, não dava em nada. Perdera totalmente o apetite sexual, as habilidades animais. Um velho de músculos caídos; virilidade ferida.

O patrão requisitou outro touro másculo para o lugar. Mandu chorava e resmungava nos córregos, sentia-se traído: "estou sendo traído pelas minhas noivas, amantes, esposas". Certa feita o patrão comprou um leva de mocinhas no auge da puberdade. E para descontentamento de Mandu, pôs uma placa no curral com a inscrição: "melhor que um chifre, só mesmo um par de chifres". Talvez o insulto tivesse ligação com os dois soberbos novilhos de cupim arredondado, andado elegante e faro fino que viera babitar o curral.

O ex-garrote rompedor coçava a cabeça de tristeza. No entanto, o que poderia ser ofensa, tornou-se a forma de conhecimento íntimo e embora vivendo aquela situação desoladora, Mandu descobriu que era mocho, perdendo até os chifres.

- Bons tempos aqueles que, mesmo sendo chifrudo, eu possuía o poder da reprodução na veia. Nessa vida, tudo passa, até a soberania vaidosa.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 01/02/2016
Reeditado em 02/02/2016
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