Amor quase incondicional

Estavam todos na feira do rolo: Quin, Raimunda, Joca, Tião de Deda; Deolinda, Dorvalindo e Dilceia que sobre o peito, caía os seios. Estes pertencentes à família de sobrenome Surubim. E a barganha, o troca-troca, o dá esse e leva aquele ali, o escambo era forte por aquelas bandas. A feira é uma das atividades humanas que superam os tempos.

Zé Macaxeira havia pescado uma volumosa peça de ouro puríssimo nas barrancas do garimpo Chão d´entro. Enquanto que Deolinda, mulher viçosa e dona de extravagantes dotes físicos, era mãe de Jacira, uma das noviças mais belas e cobiçadas nos arrebaldes. Ao vê-la, Zé se encantou. Como cão faminto, lambia os beiços, (como diz praqueles lados) assobia que só e reparava a moça dos pés à cabeça em tempo de comê-la com os olhos.

Chegou em Deolinda e foi logo abrindo o jogo: “Vi, gostei e quero levá-la. Troco a minha barra de ouro pela sua filha”.

- Cê ficou doido, Zé! Nem por todo ouro e toda prata do mundo. Minha filha é tudo.

Fulo pela decepção, Macaxeira foi nas nuvens e voltou: Deolinda, ocê devistar sabendo que no momento sou o homem mais rico deste lugar. Como pode recusar uma oferta como está”?

- Sabendo eu tô...mas minha filha e Deus é mais... Foi fabricada no meu ventre e parida das minhas entranhas, Zé! Ocê como home que é, num sabe o que isto significa.

O sol se punha. Caminhões carregados e cobertos com lona. A feira se dispersava. As trocas derradeiras: “Filomeno, o que cê tem como fim de feira para barganhar hoje”?

- Uma franga de granja, ainda virgem, mas promissora. Tenho também um pedaço bão de fumo de rolo pra pita e tombá; meio saco de feijão de corda sem alça; cinco quilos de carne de jabá sem efeito pra mídia...

- Pára, pára, pára. Promissora: ô palavra danada de bonita! Uma franga virgem: lucratividade é exatamente o que procuro. Feito negócio.

Naquele dia Macaxeira viu Filomeno pôr debaixo das asas e levar para a boleia do caminhão, aquela que Zé já tinha apelidado de valiosa potranca; que voltou para casa com a barra de ouro e Deolinda sem a filha Jaci, como a chamava. Em compensação, a aparente inexpressividade dos objetos de troca de Filomeno, fez dele...um galo bom de barganha e de bicada, também. Estava esquecendo das esporadas...

- Vichi, bixin, do nada sou tudo isso. Ô padim, Padim Cisco abençoado!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 31/01/2016
Reeditado em 31/01/2016
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