Irreverência de FINADO

Acabaram de me ligar da operadora Vivo, no que eu disparei a falar:

- De onde é? Que bom que você ligou, Patrícia! Eu acabei de morrer, nem faz cinco minutos. Ainda estou quentinho. Com o coração pulsando. Tenho que dar uma saidinha para ir ao IML, mas volto rápido. A obrigação faz o defunto. Espere, por mim: é pá e bola!

- Não senhor, procuro fulano de tal.

- Então, com disse, ele acabou de morrer, como sou autossuficiente, estou aproveitando esses derradeiros minutos, para convidar os meus amigos para o meu enterro. De agora em diante, você deve me chamar assim: por favor, o finado fulano de tal. Questão de apreço e educação.

Voltando, convide o restante do pessoal e diga a eles, para trazerem um pichulezinhos para ajudar no pagamento das dívidas; pois ser chamado de caloteiro em vida, é menos vexatório do que após a morte.

- Senhor....

- por favor finado fulano de tal. Lembro demais de você, sua mãe deixava eu pegar você no colo. Como era lindinha. Será que o pessoal vai colaborar com a caixinha para o pagamento da dívida. Estou contando com meus amigos, porque depender de parentes, é uma desgraça. Estou morrendo à míngua e ninguém vem me ver. Mas duvido se amanhã não comparecerão ao Cartório para receber o que não tenho. Vou deixar um chinelo furado; uma cueca suja; uma escova sem cerdas; um violão quebrado; o motor da geladeira...

- Senhor, senhor!...

- Vou falar enquanto tenho sangue e fôlego: por favor, dirija-se a mim dizendo, finado fulano de tal. Assim que o telefone chamou, morri. Como aprovo os trabalhos da Vivo! Vivo para morrer, exatamente como o que me aconteceu. Perdi a Certidão de Nascimento, mas estava Vivo.

- Senhor, senhor, finado fulano de tal; desligo por falta de comunicação.

- Por favor, vai me deixar falando sozinho. O velório será às 18 horas em ponto. Que pode ser de ônibus, de metrô; ortográfico; e vírgula; qualquer um. Quero é ir em paz. Oi...oi...oi...alguém do outro lado. Acho que desligou. Como é difícil morrer, e não poder contar com ninguém para ouvir a dor da morte d´agente. Cruz credo, que povo mais insensível!

Estou de olho Vivo com essas balelas mortas. Essa não me aporrinha nunca mais. Logo-logo oferecem a mãe. Bucha por bucha, prefiro a que está no meu canhão, que já tentei inúmeras vezes passar pra frente, mas ninguém quer; então porque a Vivo tem que vender as porcarias dela para mim?

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 19/12/2015
Reeditado em 20/12/2015
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