DIÁLOGO FAMILIAR
– Filho, me alcança aquele livro, o de capa azul.
– Não acha que está faltando alguma coisa?
– O quê? Está faltando folha? Você já leu o livro?
– Não é isso. São só duas palavrinhas.
– Se forem só duas palavrinhas, não tem problema. Deixa pra lá e me dá o livro.
– São aquelas palavrinhas mágicas que se usa: por favor!
– Ah! É isso. Quer dizer que você considera isso um favor, esticar um pouquinho o braço e pegar um livro na estante?
– E não é?
– Onde existe uma relação em que isso está catalogado como favor?
– Não sei. Mas é costume... É coisa de etiqueta.
– Etiqueta é para os que não são íntimos. É uma espécie de formalidade. O que significa para você “fazer um favor”?
– É prestar um serviço a alguém gratuitamente.
– Não é assim tão gratuitamente. Quem é que lhe paga as roupas, os estudos, empresta o carro, financia os divertimentos?
– Mas isso é obrigação de pai. É diferente.
– Quer dizer que pegar um livrinho na estante é um serviço tão difícil, que isso tudo não paga? É necessário ainda solicitar por favor...
– Não é isso. Mas para que complicar? Pedir por favor torna as coisas mais fáceis.
– E se eu pedir e você não quiser me atender? Favores também podem ser recusados. Que tal chegar para meu chefe e pedir que me faça o favor de dar um aumento de 50 por cento? Será que ele me atende?
– Aí não funciona. Ele é seu chefe. Não se pode pedir favores a ele.
– E a quem eu devo pedir? A você que é meu filho? Está bem. Não vamos mais complicar as coisas. Por favor, me alcance o livro de capa azul.
– Tá na mão! Viu como é fácil?
– OK. Muito obrigado.
– Não há por que agradecer.
– Não? Então pra que toda essa frescura?