O pulo do Gato
O PULO DO GATO
Venídio era um sujeito pacato, gente boa toda vida, porém muito precavido e desconfiado. Casado com Vanuara, morena fagueira cor de canela, bonita que só. Chamava o marido de mozão. Era mozão pra cá, mozão pra lá, mas como se diz aqui no interior, Vanuara era muito ligeira. Venídio sempre com um pé atrás com a esposa, pois tinha quase certeza de que ela andava lhe enfeitando, porém, como não podia provar nada, continuava só na miúda.
Um dia, ao chegar ao trabalho, soube que haviam trocado o seu turno: trabalhava à noite, e a partir do dia seguinte passaria para o período diurno. Retornando ao ônibus, e após algumas horas de percurso, estava chegando em casa novamente, era por volta de dez horas da noite. No quarto, em plena cama do casal, estavam Vanuara e um grande amigo seu. Ambos “inocentemente” trocavam uma ideia, conversavam despretensiosamente como vieram ao mundo, pois as noites daqueles dias eram muito calorentas. De repente, ouviram o barulho de alguém entrando pela casa, foi aquele desespero, pois não havia a mínima possibilidade de o visitante se esconder ou sair pela porta do quarto. Naquele perreio todo, um verdadeiro “pega pra capá” o sujeito não pensou duas vezes: saltou pela janela peladão, com as calças na mão, já que não teve tempo nem de vestir-se.
Ao entrar no quarto, Venidio se depara com a mulher pálida, como uma cera, e tremendo muito. O que aconteceu aqui mulher? Que barulheira foi essa? Você viu algum fantasma? E ela: Lógico, você chega e entra com tudo, pensei que fosse um assalto, tomei o maior susto. Até o coitadinho do Xuxo que estava comigo na cama saltou pela janela com os olhos esbugalhados de tanto medo. (O Xuxo é o gato de estimação do casal.) O maridão ainda olhou pela janela no quintal escuro, más não viu nem a sombra do Xuxo. No momento do pulo, o gato vacilão caiu bem em cima de um pé de limão que ficava ali em baixo da janela, imaginem a cena: o sujeito cai pelado sobre um pé de limão caipira, destes que tem uns trinta espinhos para cada fruto. O moço levou tanta cutucada, que está pulando até agora.
No dia seguinte, estavam Venídio e alguns colegas na fila pra bater o ponto quando surge o Javanôr todo estropiado, cheio de hematomas, com ataduras e arranhões por todo corpo. Ao ver o estado do colega, Venidio perguntou: O que foi isso rapaz?Você foi atropelado? E ele... Não, é um maldito d’um gato que tenho lá em casa, o bicho nunca foi com a minha cara, más ontem ele surtou de repente e veja só o que me fez. Que coincidência, disse Venidio, eu também tive um problema com o gato lá de casa ontem. O bichano se assustou comigo, se apinchou pela janela e caiu em cima de um pé de limão cheio de espinhos. O pior é que eu havia colocado um produto agrotóxico no limoeiro, e na embalagem estava escrito: manter longe do alcance de animais ou crianças, na ocorrência de acidentes, ou contato com o sangue ou a pele, imediatamente causa impotência sexual, a vitima perde todo o pelo, ou cabelo do corpo, causa cegueira, envelhecimento precoce e convulsões de hora em hora. Vou ter que sacrificar o pobre do gato, pois eu não vou suportar ver o bichinho sofrendo tanto.
Javanôr, com os olhos arregalados diz para o amigo: Rapaz, agora você me deixou muito preocupado. Por quê? Inquiriu Venídio. Vai que meu gato também andou se estrepando em algum limoeiro igual esse seu. O bicho pirou do nada, pode ser o efeito deste diabo de veneno.
(Idal Coutinho)