Bico de PAPAGAIO sem PROTETOR

Esse conto quase verídico, que acontecera diversas vezes por semelhanças, talvez no século passado lá pelos fundos do estado de MG. Naquele tempo o conhecimento da praia, lazer que era, dependendo da região onde o fulano morava, oportunidade rara e única; contrário aos dias de hoje que frequentam praias em Miami, Aruba; Cancun, para não citar outras.

A família de Zé Bezerra contava com três filhos, uma esposa, um sogro e lógico, uma sogra. Senhora brincalhona, religiosa ao extremo e que deliciava-se em estar ao lado da família e amigos proseando. Não perdia um forro pé de serra, festa junina com mungunzá e tapioca e o genro preferencial, o senhor Zé Bezerra.

A boa relação fazia com quê eles se vissem todos os dias. Mesmo não sendo de agrado de seu marido Joca, todas as tardes e noites os dois solteirões batiam o chão batido que dava à casa da filha. Lá, ficavam até por volta das 21 horas e com o auxilio de uma potente lanterna, rumavam de volta para casa. Vez ou outra dormiam na casa da filha. Preferiam os seus aposentos, e um dos motivos é porque dormiam agarradinhos, feito carrapatos na anca de animais. Amor que demandava mais de 40 anos de casados e excelente convívio. Nunca brigaram.....................exceto, armados com o pau de macarrão; ou o amansa louco.

Inesperadamente, chegou à casa do genro e nem bem sentou para chorar as pitangas do dia, quando o genro chegou da roça trazendo com ele a notícia que comprasse o maiô ( porque idoso com as pelancas dependuradas usando fio dental, afugenta até com arrastão. Na realidade é um arrastão ), sombreiro e as cadeiras que os lugares de ambos estavam reservados no carro: “Fim de semana iremos à praia minha sogra. Vamos desfrutar de água de coco, bronze, óculos escuros e o melhor, salgar o saco nas águas do mar”.

Enquanto Joca não sentiu-se entusiasmado com o convite, a sogra ficou toda empolgada e regateira com a oportunidade de conhecer a imensidão das águas do mar. Como naquele tempo não havia internet e coisas mais, ficava por conta da imaginação o que poderia ser o tal de mar com suas ondas e tormentas devastadoras.

Fim de semana aproximava-se. Parte das bugigangas foram postas no carro e as perecíveis seriam postas no dia anterior e na hora da partida. Estando na casa do genro na quinta feira da semana da viagem, a sogra indagou o genro, uma vez que levariam o gato, os cães e a periquita, (nessa época não havia hotel para animais) sobre a possibilidade de levar o papagaio Fidelis. O genro já prevendo o pedido, fez a condição que o levaria: “Levar sogrona, pode levar; mas peço que tome conta dele para não bulir com a minha periquita”.

A sogra olhou atravessado sem nada dizer. O genro prosseguiu: “Esqueci-me de dizer, que a sogrona deve levar também protetor solar fator 60. Prevenção nunca é demais”.

Novamente a sogra torceu a cara num nó cego; porém dessa vez quis saber o porquê da advertência: “Ué, que mal lhe pergunte, para que serve esse tal de protetor fator 60. O fator tem a ver com a idade”?

- Lá na praia a sogra fica sabendo. Matarás a curiosidade. – descontraidamente, como é praxe em famílias desse nível de amistosidade, todos caíram na gargalhada.

Apartamento alugado. Carro abastecido e revisado. O dia chegara. Saíram bem cedo para aproveitar o dia. Até a metereologia faria a parte dela para tudo dar certo e proveitoso, pois o fim de semana previa tempo bom com altas temperaturas.

Chegaram à cidade e foram direto para o apartamento. Esvaziaram o carro, puseram as coisas em seus devidos lugares e após tudo arrumando, botaram os trajes de banho, pegaram os apetrechos de sol e saíram enfileirados.

- Esquecemos de uma coisa. - disse o genro.

- O quê. – perguntou a esposa.

- Sua mãe trouxe espelho? – a esposa respondeu afirmativamente.

Voltaram ao apartamento e pegaram o que havia esquecido e seguiram festivos em direção à praia. O dia estava contagiante, com muita gente caminhando nos calçadões e orlas, praticantes de esportes e uma multidão de sombreiros. Sem parar de falar um só segundo, a sogra ficou extasiada com o épico dia em companhia do azulado das águas marinhas. Para ela, total bucolismo.

Abriram as espreguiçadeiras e sombreiros; serviram-se com as matalotagens que levaram e não levou muito tempo, foram para a água. Banharam-se e retornaram-se ao lugar de origem. Por onde andava; a sogra não perdia a oportunidade de fazer amizades. Falante, parecia que estava em sua casa.

Uma hora da tarde. O sol castigando a pele. A sogra inquieta. O genro vendo a inquietude dela, perguntou o que estava se passando, que respondeu prontamente:

- O sol está demais. Terrível!

- A sogrona passou o protetor?

- Sim; minha filha passou em meu corpo todo. Estou protegida do sol.

O genro pegou o objeto que havia esquecido no apartamento e passou para ela. Desconfiada, a sogra indagou: “Ué, para que serve esse espelho de bolso”?

- Para a pessoa se olhar, claro! – respondeu o genro.

- Isso eu sei. Mas o que tem a ver o espelho com praia; é por causa de tanta gente bonita?

- Olhe no espelho.

Ela olhou e a única coisa que notou era que estava vermelha, como camarão no braseiro. Tornou indagar o genro: “que estou vermelha, isto eu sei; mas quero saber para quê serve um espelho na praia”?

- Coloque a língua para fora e saberás.

Torceu a cara num nó cego e resmungou dizendo que a levasse de volta para casa; pois, lugar de língua de sogra sem proteção solar é entocada no meio do mato. Após a gargalhada geral, o genro falou: “Quanta diferença entre a minha sogrona e o seu papagaio”.

Voltaram para o apartamento gargalhando. Assim que botaram o pé na sala, foram recebidos com as boas vindas do papagaio: “Prururutataco titaco atrás do saco! Língua de sooogra! Língua de traaapo! Kkkkkkk dá o pé loro. Dá o pé loro. Língua de traaapo! Língua de sooogra! Cata pioio, loro. Cata pioio”!

- Esse FDP está me gozando. Me segura senão mato ele.

- Língua de sooogra! Língua de traaapo! Cata pioio, loro! Cata pioio... Tá dando risada de quê Genrão?

- Tá ouvindo? Culpa sua sogrona.

- Tá dando risada de quê Genrão? Ouvi você falando para olhar senão eu comia sua periquita donzela. Dei um punhado de bicada nela. Tô com o bico pegando fogo e ela tá alegre que só, com o rabinho em chamas!

Kkkkkkk. Biquei sem protetor. Língua de sooogra! Prururutataco, titaco atrás do saco! Prururu...língua de traaapo! Sooogra!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 08/05/2015
Reeditado em 13/05/2015
Código do texto: T5234509
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