Candidato
– Sou novo ainda e, ao contrário de muitos, queria seguir a carreira política.
– Grande ideal, meu jovem. Saiba que você veio ao lugar certo.
– É! Eu vi a propaganda deste partido na televisão. Pensei em me filiar para concorrer nas próximas eleições.
– Em nosso partido damos muita importância às convicções políticas. É claro que alguns fatores influenciam, como a popularidade, a base eleitoral, os parentes importantes, patrocinadores.
– Mas eu tenho um dilema que incomoda.
– Qual meu jovem? Diga. Estamos aqui para esclarecer suas dúvidas.
– Ao mesmo tempo em que tenho fascínio pela política, sinto medo e até vergonha já que todos são vistos como corruptos e oportunistas.
– Como em qualquer profissão existem os bons e os maus exemplos. Assim é o ser humano.
– Diz-se também que com o tempo as boas intensões desaparecem, o sistema engole e molda os ideais.
– A democracia não vinga sem seus protagonistas principais: os eleitos. Igualmente existe a justiça para corrigir deslizes humanos em qualquer área de atividade. Por fim as eleições seguintes servem para ajustar erros de percurso.
– Justiça? As eminências ilustres, que deveriam zelar pelo direito, decidem influenciadas por forças criminosas e são reféns das figuras políticas e econômicas dominantes. Já muitos eleitores agem como cegos idiotas, reelegendo sem cerimônia aqueles, comprovadamente desonestos.
– Novamente. Não se deve generalizar. Se assim fosse nada funcionaria no país. A lei da ficha limpa também foi o bom avanço.
– Então, o que o Senhor me aconselha?
– Primeira coisa: Não exagere nas promessas. A maioria cria falsas expectativas apenas para ser eleita.
– Mas sem esse recurso, o que fazer?
– Ao invés de prometer procure demonstrar sua capacidade de realização. É a ação que move obstáculos, não a oratória vazia.
– Faz sentido.
– Vejo que você já esclareceu as dúvidas, está consciente, pode se filiar ao partido e entrar na luta. O tempo é curto.
– Ótimo. Estou com muito gás e vou fazer a diferença.
– De qualquer forma, não se iluda meu jovem. Logo que você assumir um cargo tornar-se-á culpado por todos os males anteriores. As pessoas não distinguem o novo do antigo. Assim é a política. Não importa o produtor da merda, mas sim quem está sentado no vaso ou mais perto da moita.