O PERFIL DE UM PRÉ-CANDIDATO
A comunidade de Cafundós de Judas já tem um nome para ser votado nessa eleição. De uma hora para a outra, Jô Formigon, um camponês sem muita expressão na política partidária, apareceu como pré-candidato a deputado estadual pelo partido da oposição e tem tudo para sair vitorioso.
Sua plataforma de governo não difere em nada daquela apresentada pelo pré-candidato da situação. Ambos os candidatos, entre outras coisas, prometem comida farta na mesa do assalariado que der duro no seu trabalho. Moradias não são prometidas, pois segundo o entendimento deles, todos os outros candidatos continuam prometendo isso há muito tempo e os eleitores já sabem que nesse setor não haverá mudanças substanciais.
Da maneira como eles se comportam, nem parecem adversários políticos. Frequentam os mesmos redutos eleitorais e ao final de cada visita às pessoas das comunidades vizinhas, passam no bar “O Derradeiro Gole” e ali, entre um trago e outro, lá vão eles pôr em dia as fofocas eleitoreiras locais.
As más línguas comunitárias andam falando que se um deles for eleito, o que for derrotado irá trabalhar como assistente político do vitorioso, situação que não é muito comum na política partidária nacional. Jô Formigon desmente tudo isso...
O tal Jô Formigon tem prometido ser um político diferente de todos esses que já estiveram em cena nos últimos pleitos. Sua justificativa, apesar de ter um apelo político partidário muito forte, ela é bastante compreensível: jura por todos os santos conhecidos, que não será um “mensaleiro”, pois as experiências passadas provaram que essa prática pouco explorada por alguns políticos nacionais não surtiu o efeito desejado. Talvez um “trimestraleiro” ou, na pior das hipóteses, um “semestraleiro”.
Ele tem bradado aos quatro ventos que cansou de ser visto como um homem que só enxerga o próprio umbigo. Se for eleito, como tem sido essa uma prática dos políticos vitoriosos, procurará enxergar além do próprio umbigo, o poder de absorção tributário dos seus eleitores.
Por fim, irá trabalhar em prol daqueles que já possuem riquezas acumuladas, pois assim o fazendo estará contribuindo para o crescimento da economia nacional. No campo da justiça social, só promoverá o direito para aqueles que não o tiverem, pois quem presumir ter seu direito assegurado, decerto, não irá sentir falta dele em nenhum momento.
A mídia regional tem projetado o candidato Jô Formigon como o homem que salvará sua comunidade e demais adjacentes das mazelas e resquícios de promessas não realizadas deixados pelos seus antecessores.
Uma coisa já é certa: se ele não for vitorioso nessa eleição, a conta será paga pelo povo que está investindo maciçamente em sua candidatura. Quanto ao que ele pensa disso, ninguém sabe de nada, nem ele está preocupado...