O PISTOLEIRO

Cidade pequena é uma merda mesmo. Tudo se sabe. Se a gente der um peido, todo mundo sente o fedor.

Certo dia um homem vestido com roupas pretas chegou pelo ônibus das sete horas e entrou no bar da praça, pedindo uma cerveja. Ficou lá por horas. De vez em quando consultava o relógio, atitude essa que logo chamou a atenção dos que estavam ali jogando conversa fora, melando o bico e falando da vida alheia.

Seu Onofre, o dono do bar logo alarmou. Só podia ser um pistoleiro. Todo de preto daquele jeito, só podia ser mesmo um matador. E com certeza tinha vindo dar cabo de alguém da cidade. Mas quem podia ser?

A pergunta ficou no ar. O homem de preto alheio ao cochichado, pediu mais uma cerveja. Bebeu devagar sempre consultando o relógio.

A essa altura, o boato de que um pistoleiro armado até os dentes estava no bar da praça, já estava correndo na boca do povo.

No salão de beleza da dona Cotinha, era só no que se falava. As mulheres desocupadas começaram então o rosário das fofocas.

- Ouvi dizer que vieram matar o prefeito. Parece que ele tá metido com um bocado de falcatrua. Esse pistoleiro veio acabar com a raça dele.

- Que nada! Parece que o matador veio acabar foi com o padre. Dizem que o padre mexeu com uma mulher casada e o marido ciumento contratou um pistoleiro pra terminar com a história.

- Eu já soube a verdade: o pistoleiro veio foi matar o coronel. Há muito tempo que esse coronelzinho tava mesmo precisando levar umas balas no meio dos chifres! Vocês vão ver!

Enquanto isso, no bar, o homem de preto se levantou e perguntou o que estava acontecendo e qual seria o motivo daquele zum-zum-zum que o povo tava cochichando. O seu Onofre, desconversando, falando em voz baixa, disse que um pistoleiro tinha chegado na cidade e o povo tava só querendo saber quem ia ser o desgraçado que ia ser executado sem dó nem piedade.

- Valha meu São Francisco de Canindé! – balbuciou o homem de preto visivelmente nervoso. Apressou-se em pagar as cervejas e saiu todo destrambelhado do bar. O pessoal disse que logo que ele saiu do bar, pegou o ônibus das onze horas. A galhofa foi geral no bar da praça.

- Que pistoleiro, que nada, pessoal! O cabra saiu daqui foi se cagando de medo! Arriégua! Essa cidade véia num presta nem pra ter um pistoleiro de responsa!

Mas o boato sobre o pistoleiro, no entanto, já tinha feito um estrago grande. Dessa vez já tinha gente espalhando pelos quatro cantos da cidade que havia chegado outro pistoleiro e que a mortandade iria ser grande.

O que se sabe mesmo é que no dia seguinte, o prefeito, o padre e o coronel desapareceram da cidade.