JOGO DE CARTAS
CAUSO DO JOGO DE CARTAS
“GUMERCINDO SOUZA VIEIRA, ESSE É MEU NOME”, SEMPRE RESPONDIA O “CUMPADE” GUMERCINDO, QUANDO SE APRESENTAVA PARA ALGUÉM.
SUJEITO ESPERTO, MAS SIMPLÓRIO, GRANDE AMANSADOR DE CAVALO, MUITO QUERIDO NA REGIAO, PRINCIPALMENTE PELAS MULHERES, QUE SOLTAVAM SUSPIROS QUANDO ELE PASSAVA.
CERTA VEZ, UM GRANDE FAZENDEIRO LOCAL CAIU NA BESTEIRA DE CONVIDAR GUMERCINDO PRÁ UMA JOGATINA DE CARTAS, HÁBITO NAQUELA REGIÃO, POIS O FAZENDEIRO, ALÉM DE RICO E EXÍMIO JOGADOR, GOSTAVA DE JOGAR E FAZER APOSTAS ESQUISITAS, TAIS COMO “SE GANHAR O JOGO, VOCÊ ME PAGA COM SERVIÇOS”, EXEMPLO ROÇAR PASTO, COLHER CAFÉ, TRATAR DO GADO E OUTRAS COISAS, QUE FAZEM PARTE DO AFAZERES DE UMA GRANDE FAZENDA, E SEU INTERESSE NO GUMERCINDO ERA USÁ-LO PRÁ AMANSAR UNS CAVALOS BRAVOS QUE ELE JÁ TINHA CONSEGUIDO EM OUTRA JOGATINA DE UM COMPADRE VIZINHO.
O MAIS INTERESSANTE É QUE ELE SEMPRE VENCIA, POIS ELE TINHA UMA ARMA SECRETA, QUE ERA SUA CONCUMBINA ELZA, MORENA ESGUIA, CABELOS LONGOS, SEIOS FARTOS, ROSTO INSINUANTE, MAS ANGELICAL.
SEMPRE QUANDO COMEÇAVA UMA PARTIDA, ELZA SE SENTAVA AFASTADA DA MESA UNS TRÊS METROS, SEMPRE DE FRENTE PARA O ADVERSÁRIO DO RESPEITÁVEL FAZENDEIRO.
ASSIM QUE COMEÇAVA A PARTIDA, ELA SE LEVANTAVA E SERVIA O CAF. CONFORME ELA SE INCLINAVA, SEUS SEIOS QUASE QUE PULAVAM PRA FORA, SEUS SEIOS E OS “ZÓIOS” DE QUE ESTAVA NA MESA PRÁ UMA PARTIDA QUE ACABAVA DE COMEÇAR.
EM SEGUIDA, ELA VOLTAVA PRO BANCO EM QUE ESTAVA SENTADA, DAVA UM SUSPIRO E ELEGANTEMENTE CRUZAVA SUAS PERNAS.
BEM, ASSIM TAMBÉM ACONTECEU QUANDO GUMERCINDO SE SENTOU À MESA PRÁ COMEÇAR UM CARTEADO. O “CUMPADE” GUMERCINDO ESTAVA DIVIDIDO, UM “ZÓIO” NAS CARTAS E O OUTRO NA ELZA, ATÉ QUE, DE REPENTE, QUANDO UMA CARTA CAIU, ELE SE AGACHOU PRÁ PEGÁ-LA. AGACHADO, ARRIBOU UM BOCADO O PESCOÇO E SEU ALVO, QUE ERAM DUAS LINDAS PERNAS CRUZADAS QUE, NESSE MOMENTO, ESTAVAM ABERTAS, FEITO PORTEIRA DE FAZENDA ABANDONADA.
NA MESMA HORA, SUA IMAGINAÇÃO FEZ UMA VIAGEM BEM RÁPIDA. EM SEGUIDA, O “CUMPADE” SE COMPÔS, SE LEVANTOU E SENTOU DE VOLTA NA CADEIRA. NESSA HORA, SEUS “ZÓIOS”, QUE ESTAVAM NAS CARTAS, FICARAM JUNTOS COM O OUTRO QUE ESTAVAM EM ELZA.
O “CUMPADE” GUMERCINDO, QUE NÃO ERA NADA BOBO E SE VIU EM PAPOS DE ARANHA, JOGOU AS CARTAS NA MESA E FALOU, NUMA FALA MANSA AO FAZENDEIRO:
- ESCUTA CUMPADE, EU PRECISO DÁ UM PULINHO ATÉ O BANHEIRO...
- ORA, FIQUE À VONTADE, CUMPADI. A ELZA VAI TE ACOMPANHÁ ATÉ A PORTA DO MESMO.
QUANDO O “CUMPADE” GUMERCINDO CHEGOU À PORTA DO BANHEIRO, A MORENA, PRÁ SUA SURPRESA, LHE DISSE:
- E AÍ CUMPADE, GOSTO DO QUE VIU?
- MAIS É CRARO CUMADE, QUEM NUM GOSTA DO CÉU?
- ENTÃO CUMPADE, COM 1000 RÉIS OCÊ PODE FAZÊ O QUE QUIZÉ NU CÉU
- TÁ CUMBINADO CUMADE. EU PASSO AQUI AMANHA ÀS 12 HORA IM PONTO COM OS COBRE.
- ENTAO TÁ CUMBINADO CUMPADE.
LOGO O GUMERCIDO VOLTOU PRÁ MESA, DESCONVERSOU UM BOCADO E ADIOU A PARTIDA QUE, NA VERDADE, JÁ ESTAVA MAIS QUE PERDIDA, PRA UMA PRÓXIMA VEZ. MONTOU NO SEU PANGARÉ E SEGUIU VIAGEM ATÉ SEU SITINHO QUE ERA ALI PERTO.
NO DIA SEGUINTE, EXATAMENTE ÀS 12 HORAS, O “CUMPADE” GUMERCINDO CHEGOU, APEOU DO SEU CAVALO, COM SEU JEITO TRANQÜILO, CONFORME COMBINADO ENTREGO OS “COBRE” DO ACORDO PRA “CUMADE” ELZA E ELA, EM TROCA, DEU TODA SUA FORMOSURA PRO “CUMPADE”.
“DESPOIS” DE UMAS DUAS HORAS QUE GUMERCINDO, SACIADO, JÁ TINHA SE RETIRADO, CHEGOU EM CASA O GRANDE FAZENDEIRO. DE CARA FEIA, QUE ERA SEU PERFIL, E JÁ FOI QUE MEIO INTERROGANDO A MORENA ELZA.
- ESCUTA AQUI ELZA, POR ACASO O “CUMPADE” GUMERCINDO ESTEVE POR AQUI HOJE?
A MORENA REGALOU SEU “ZÓIOS” E, MEIO ASSUSTADA, RESPONDEU QUE SIM.
- ESCUTA AQUI, NOVAMENTE GRUNHIU O FAZENDEIRO, POR ACASO ELE TE ENTREGOU MIL REAIS?
A CASA CAIU, PENSOU ELZA, MAS ELA RESPONDEU NOVAMENTE QUE SIM.
- UFAAAAAA, SE ALIVIOU O FAZENDEIRO, SABE O QUE É ELZA, É QUE AQUELE LAZARENTO TEVE LOGO DE MANHÃ CEDINHO LÁ NA LOJA E ME PEDIU 1000 REAIS EMPRESTADO, QUE ERA PRÁ RESORVE UM POBREMA SÉRIO, E QUE ÀS 12 HORAS PASSAVA AQUI EM CASA E DEVORVIA TUDO, E EU CONFESSO QUE FIQUEI SISMADO DELE PEGÁ ESSE DINHEIRO E SUMI, MAIS AGORA ACABEI DE CRÊ QUE O CUMPADE GUMERCINDO É UM HOMEM DE PALAVRA...
ZÉ PAULO MEDEIROS CAUSOS&EFEITOS