Estamos virando trogloditas


Estamos virando trogloditas.
Tenho pensado nisto.
Não trogloditas no sentido físico ou tecnológico mas sim no sentido emocional, sentimental, espiritual.
Pense um pouco. Observe o mundo.
Educação e cordialidade são artigos raros. Gratidão, lealdade, fidelidade também.
Já não é suficiente a ótima casa, o emprego estável, o casamento bom, a saúde em dia.
É preciso mais.
É preciso ser importante, sair na capa da revista, ser lembrado até por quem não nos dá valor, ser querido, exaltado, frequentar a ilha mágica, ter o último modelo do último lançamento da mais nova tecnologia.
Amigos precisam agendar visita, irmãos já não se falam, pais viraram apenas provedores, professores são apenas serviçais.
Temos medo da polícia, pavor de religião, mas fechamos os olhos para os bandidos.
Curamos nosso vazio com doses diárias de uísque, nosso tédio com postagens coloridas, nossa fome emocional com amigos virtuais que são apenas números em redes sociais.
Tratamos mal a quem amamos e não acreditamos quando nos dizem o quanto somos amados.
Estamos sempre à espera do e-mail que não chega, de alguém especial, da bolada da loteria, do amor impossível, da aparência perfeita das páginas das revistas.
Desconhecemos quem foi Dante, Galeno, Michelangelo, Shakespeare, Monet... Jesus.
Mas sabemos de cor e salteado quem é “o cara” da vez, a “modelo” da hora, os Vips, Bps, o jogador de futebol, quem separou de quem, quem está no páreo no BBB.
Não sabemos mais agradecer, sorrir, ser gentil, ter paciência.
Passamos a achar filas algo normal, engarrafamentos coisa corriqueira, assaltos meros atos banais, violência ...o pão nosso de cada dia.
Pensando bem, nem sei se troglodita é o termo certo. Talvez algo relacionado a infelicidade definisse melhor.
Eu tenho tentado não sucumbir a esta onda.
De vez em quando me pego fazendo um bolo, um jantar em família, decorando uma árvore de natal ou propondo um jogo chato e antigo de cartas.
Às vezes dá certo. Na maioria, porém, sou substituída quase que imediatamente pelo último clipe da MTV, por algum vídeo espetacular no You Tube ou pelas últimas postagens do Facebook.
Não tenho chance alguma.
Não há coisa mais chata que um humano, de carne e osso e algumas gordurinhas. Ninguém aguenta!
Reconheço!
Mas eu não desisto.
Vivo imaginando teorias mirabolantes da conspiração que mudarão esta realidade.
Quem sabe uma rebelião, quem sabe uma Matrix ao contrário, quem sabe um novo iluminismo, uma revolução... dos bichos, das plantas, dos poetas, dos militares...sei lá... Nesta altura rezo para qualquer coisa.
Mas até lá... vou dar mais uma olhada no facebook e checar o meu e-mail.
Quem sabe nestes últimos minutos, alguém que não tá nem aí para mim mas não tinha nada mais interessante para fazer, me mandou uma mensagem ou curtiu minha frase do dia.
Quem sabe...


 

Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 03/04/2013
Reeditado em 03/04/2013
Código do texto: T4221688
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