Como acabar com um grande amor
Sentia-se feliz e realizado. Ao entrar naquele banheiro sabia que na mesa, era o centro das atenções. O assunto. Afinal, tinha apresentado aos seus amigos sua nova namorada. Nova e jovem. Vinte anos mais jovem. Enquanto lavava as mãos ficava a imaginar o que seus amigos estariam pensando ou falando sobre eles.
“O Cardoso, quem diria! Que bela moça ele está namorando, heim?”
“Com aquela cara de bobo, ele tirou foi a sorte grande.”
“É uma menina, deve ter no mínimo uns vinte anos a menos que ele. Parece até ser a filha dele.”
“Pode até parecer, mas não é.”
“Eles parecem estar muito apaixonados. E, para mim é isso o que importa.”
“É, e não podemos esquecer que ela é linda.”
“Para mim isso é fogo de palha. O que uma menina dessas pode querer com um cara como o Cardoso.”
“Ele é um cara muito legal”.
“Isso é verdade”.
“Mas só isso. Ela é jovem, bonita. Não sei não.”
“Sabe de uma coisa, vocês, ou melhor, nós estamos é morrendo de inveja dele. Isso sim.”
Mas, Cardoso, não estava nem aí para os comentários, apenas se divertia com eles, ou melhor, se divertia com os prováveis comentários, claro. O importante para ele, naquele momento, era sua felicidade. Afinal, pela primeira vez em toda a sua vida, amava e se sentia amado. E isso, era bom. Muito bom.
Sabia que havia uma grande diferença de idade entre ambos, sabia, também, que tal diferença poderia atrapalhar o seu relacionamento e até gerar comentários maldosos, mas, não se importava. Queria viver aquele momento intensamente. Aproveitar cada minuto, cada segundo ao lado da pessoa que amava.
Conheceu-a no cursinho. Depois de muito tempo sem estudar, resolveu fazer vestibular para Propaganda e Marketing, isso foi a melhor coisa que lhe aconteceu em anos. Já no primeiro dia se apaixonou. Loucamente. Perdidamente. A principio sentiu-se constrangido, afinal ela era só uma menina. Uma menina em um corpo de mulher. Mas, depois de um tempo, começou a perceber que ela também simpatizava com ele, daí para o namoro foi um pulo. O começo morno, aos poucos foi se transformando em uma paixão avassaladora. E hoje, tinham certeza, que, o que sentiam um pelo outro era amor. Amor verdadeiro. Amor tão forte que derrubou todas as barreiras que a idade poderia colocar.
Ao retornar à mesa viu que ela e seus amigos estavam se dando muito bem, pois, conversavam entusiasmadamente. Ao perceber sua presença, ela sorriu e foi logo dizendo:
- Ah, que bom! Meu tiozinho voltou! – disse abraçando-o, demonstrando um grande afeto por ele.
“Tiozinho?” “Tiozinho?”
Aquilo foi um banho de água fria nele e em todos da mesa. De repente tudo mudou. O entusiasmo, a felicidade presente, simplesmente desapareceu. O silêncio tornou-se imperativo. Ninguém ousou dizer uma palavra sequer pelo resto da noite. Ao deixá-la em casa o clima constrangedor ainda predominava. Não se falaram. Nem um “boa noite” fora dito.
Depois disso, nunca mais se viram ou se falaram. Apesar de amá-la perdidamente e saber de que ela o amava também, decidiu por não mais vê-la. Até o numero do celular ele trocou, para não ter que conversar com ela. Afinal ela vivia ligando para ele. Para ele tudo havia chegado ao fim quando ela chamou-o de tiozinho. Ser chamado de tiozinho foi demais para ele. Seu orgulho não o deixava superar. “Se ao menos ela tivesse me chamado de tiozão”, pensava ele, a história seria outra. Mas, tiozinho, não. Definitivamente não.