MAS ELE É UM...GENTLEMAN!

Não que eu ficasse ali observando o que acontecia lá dentro, mas há situações das quais participamos sem nenhuma segunda intenção..a não ser a de escrever.

E lá estava ele no consultório, aquele meu amigo, o doutor João, a atender uma madame toda recauchutada. Bonita mesmo!

Vinha ela sempre acompanhada do seu marido todo solícito, quase um súdito, uma daquelas mulheres sortudas às quais uma vez Picasso se referiu, a qualificá-las como uma espécie que nasceu para reinar entre os homens, nesse caso, rainha incondicional do maridaço em extinção.

Eu a observava com certa admiração, afinal, são raras as mulheres rainhas de Picasso.

Ela, na minha percepção, era uma delas, sortudas mesmo.

Toda pomposa, vestida como uma menina, amparada pelos braços masculinos, falsamente disfarçada no seu tempo já chegado, e esse talvez fosse o seu único exagero a me chamar a atenção...além daquele marido, claro.

-Tudo bem com a senhora, dona Sofie? perguntou o doutor João.

-Ah, ela se sente muito cansada, doutor! E lá se foi o marido a enumerar com perfeição milimétrica toda a sintomatologia que não era dele mas que ele sentia por ela.

Matutei e muito invejei aquele marido tão zeloso que continuou a se lamentar pela esposa rainha:

-Doutor, ela se cansa muito porque não pára o tempo todo! Ela acha que ainda é "nova"...

Deus! nada é perfeito nesse mundo. Uma reputação de vida dum marido gentleman perdida num único segundo de distração ...da sua tão pura sinceridade...