TRANSZÉ
- Chegou cedo hoje, heim Zé? Você não foi trabalhar não?
- Eu não! Sabe de uma coisa, pedi demissão.
- Pediu demissão? Você ficou louco Zé? As coisas por aí estão difíceis, não está fácil encontrar emprego por aí não.
- POR UM ACASO EU TÔ PEDINDO ALGUMA COISA?
- Ô Zé, desculpa aí. Eu não queria te ofender não. Eu disse isso sem maldade. Você sabe eu sou seu amigo. Eu não lhe desejo mal não.
- Eu sei... Eu sei... É que eu cansei dessa minha vida de assessor.
- Assessor?
- É! Assessor de pedreiro.
- Assessor de pedreiro? Essa é boa, você quer dizer servente de pedreiro?
- Mas você é igonorante mesmo, né?
- Eu, ignorante?
- É isso mesmo. Tempos modernos amigo. Tempos modernos. Não se usa mais servente, agora, com a modernidade é assessor.
- Tá bom o senhor assessor, você pediu demissão e vai fazer o que agora da sua vida?
- Agora vou ser empresário.
- Empresário?
- É, empresário.
- Sei...
- Agora eu vou investir no ramo dos transportes.
- Investir? Em transportes?
- É! Entregas de encomendas.
- Entregas de encomendas?
- CÊ VIROU PAPAGAIO AGORA? FICA ME REMEDANO.
- Não! Não! Desculpe! É que eu estou pensando alto.
- ENTÃO CÊ FALA PROS SEUS PENSAMENTOS AÍ PARAR DE ME REPETIR.
- Tá bom! Tá bom! Então Zé, como vai ser esta empresa? Fale-me sobre ela, como vai se chamar, enfim, conte-me tudo.
- Ela vai se chamar TRANSZÉ, muito mais rápido do que ir a pé...
- Ah! Muito bem. Tem até uma frasezinha para fazer uma propaganda. Legal!
- Você vai vê. Uma empresa totalmente ecológica. Sustentável.
- Sustentável!
- NÃO COMEÇA...
- Desculpe!
- De baixo custo. Emissão de poluente totalmente orgânico e reutilizável. Uma maravilha!
- E como vai ser? Quero dizer onde você vai arrumar dinheiro para este empreendimento? Você tem algum investidor que resolveu investir na sua ideia?
- Não precisou não. A empresa vai ser 100% minha. Montada com recursos próprios.
- Que recursos são esses Zé? Até onde eu sei você não tem nem onde cair morto.
- ÔPA! DESSE JEITO VOCÊS ESTÁ ME OFENDENDO. VÊ SE ME RESPEITA! PARA SEU GOVERNO, MORTO A GENTE CAI EM QUALQUER LUGAR, NÃO PRECISA TER DINHEIRO NÃO.
- Hoje esta difícil mater um diálogo com você, heim Zé. Santa ignorância. Eu só estou te perguntando, por que para uma empresa dessas precisa-se de muito dinheiro. Precisa de muito investimento.
- Até parece... Olha já tá tudo certo. Olha CE vai vê, eu vô me transformar num grande empresário. Já to até imaginando a placa na frente da empresa: TRANSZÉ, uma empresa do Zé.
- Então tá, né!
- Eu sei que você não acredita. Mas é só aguardá. Aguarde e confire.
- Você deve saber o que está fazendo.
- Se sei.Já dei o passo inicial, por enquanto eu vou ficar na informalidade, mas, logo, logo... É só esperar. Esperar para ver.
- E nesse passo inicial que você deu, o que você comprou? Que veículo você já adquiriu? Quer um conselho? Não compre veículo muito velho não, senão você vai perder muito dinheiro com conserto, oficina, se sabe. Vem cá o veículo que você comprou esta aqui perto? Outra coisa, eu não sabia que você era habilitado. Zé você tem carteira de habilitação, né?
- CÊ TÁ LOUCO? QUANTA PERGUNTA. Ele não tá velho não, tem uns dois anos de uso só.
- Então está novinho. Cadê ele? Quero dizer, cadê o veículo que você comprou? Cadê seu novo instrumento de trabalho? Agora, adeus pás, enxadas, martelos. Agora é vida nova, heim Zé?
- Olha ele ali. Paradinho. Quietinho.
- Onde?
- Ali!
- Desculpe, mas...
- CÊ TÁ CEGO, HOME?
- Claro que não, é que... Espera aí... A única coisa que eu estou vendo é... Um burro e uma carro...
- Então? Não é uma maravilha. Ecológicamente correto, totalmente sustentável. Poluente 100% orgânico. Não utiliza combustível fóssil. Não contribui para a diminuição da camada de ozone. Baixissimo investimento inicial. Seu combustível é encontrado em qualquer lote vazio da cidade, e, a sua alimentação contribui para a limpeza da mesma. Como eu disse uma maravilha.
- Quero dizer, um burro não, eu estou vendo é dois burros e uma carroça...