EU NÃO TENHO OUTRA
À minha maneira
Perdi a cabeça,
Bati com ela nas estrelas...
Depois a tristeza
Raiva das perdas…
E da perdida bebedeira.
Já tinha bebido uma grade inteira
E quase tudo era cerveja.
Furibunda minha Mariquinhas
/À namorada que não pus engano,/
Repeti arrependido: tu não acreditas?
Disse com cara natural de anjo
«Juro, eu não tenho outra!».
Seu grito – rebentou como uma bomba!
E do céu um trevo da boca
Como um fundo dum cume...
Primeiro, em salivado azedume.
Depois assassinando a raiva.
Saindo um pouquinho de ódio
E de certeza, talvez ela saiba…
Que o ódio não passa assim que a modos
Como o amor seguido do ciúme.
Ao voltar a mim…
Fiquei desaparecido no infinito
Não consegui sair de lá.
Disse: sim.
Arranjei o bonito!
Maldita a hora em cima da mesa!
Que esqueci da minha agenda...
Dei um passo atrás…
Não valeu de nada se fosse…
No pasto, ao pé dum boi
Atiro fora a vigésima bejeca de vidro
Indo junto com o arroto do pifo,
E fiquei eu a pastar nas ervas
Rodeado pelas poças das merdas…
Fresquíssimo castanho vomitado da dor.
Muito cagaram aquelas parvas!
E era tudo caca de vacas.
Coisa que brota fora…
Servo da angústia perdida
Com coração de som dilacerado
Fiquei com cara de parvo!
Sem remédio, vim-me embora
Depois, talvez sem saída…
Que estava eu à espera?
Meus olhos quadruplicavam…
Cornos que nunca mais acabavam!
E via tantos à volta da minha cabeça…
Dei um passo pisando com a bota
Uma merda que era uma bosta,
Enterrando até aos tornozelos
Aquela caganeira de grelos.
Furioso, gritei como estava:
Filha da puta da vaca!
Já não bastava enganar uma
diga-se de passagem que não era…
E aparecia esta grandessíssima puta!
Borrando a quem nenhum mal fizera.
À minha maneira
Perdi a cabeça
Bati com ela nas estrelas…
Depois a tristeza
Raiva das perdas…
E da perdida bebedeira…
Fui-me deitar a pensar nela…
Acordando com o cheiro de tanta merda.
/1984 - Propriedade e
vacas do Palhas/