A POSE DOS POSUDOS

Bem, não é a primeira vez que escrevo sobre um tema que muito me intriga: a vaidade.

Claro que aqui não me refiro àquela vaidade natural do ser humano, em especial das mulheres, nada disso, tal vaidade é inofensiva a não ser para os bolsos delas provedores.

Que bolso não se desespera ao ver , por exemplo, uma mulher num cabeleireiro ou numa loja de sapatos e bolsas da última moda? Ou numa loja de perfumes fashion? Faz parte.

Aqui, entretanto, falo dum outro tipo de vaidade...a soberba, quase sempre de mãos dadas à arrogância doentia e aos diversos tipos de preconceitos.

Enfim, aqui falo dos posudos do meu título redundante, aqueles que de longe a gente já reconhece só pela altivez da postura ou pelo timbre da voz.

Engraçado que a vaidade é algo sem limite nessa e o mais incrível, na outra vida também.

Há alguns da turma daqui que podem até não saberem para aonde vão mas, por via das dúvidas, querem embarcar de primeira classe...e com classe! Isso é notório!

Por exemplo, lembro-me que quando eu era criança, lá na cidadezinha da minha mãe, existia um cemitério cujos jazigos me chamavam a atenção por serem verdadeiras moradias de luxo. Nossa, eram lindos!

Quando eu perguntava para quê era aquilo, já que estava todo mundo morto, minha mãe me beliscava e me dizia " filha, quem morreu era muito importante".

Até hoje não entendi bem aquela explicação. Se era tão importante, então, por que morreu? Era o que eu pensava e confesso, ainda penso.

Ocorre que agora as coisas mudaram: se é importante tem que ser cremado. Esta coisa de enterrar o corpo, deduzo, deve ser pra gente não importante, portanto, para os não posudos.

E foi pensando em tanta pose que, certa vez, passando por uma rodovia li lá a inscrição na entrada dum cemitério "Recanto dos Reis".

Bom , acho que nem preciso comentar mais nada. Ali selei minha ideia dos finados posudos do outro mundo.

Outro dia ouvi alguém sabidamente de "muita pose" argumentar em público:" e ele que nem tem olhos azuis...". Que susto que eu levei!

Aquilo me impressionou tanto porque pensei" o que será de mim, eu e a grande e mera parte da humanidade, possuidores dos nossos tão comuns olhos castanhos escuros...". Pensei de imediato numa posuda lente colorida.

É porque o posudo contagia... há que se ter muito cuidado.

Exemplo disso é o cachorrinho de madame, sempre a cara do dono, mesmo que simpático num primeiro momento. Simpatia não combina com pose, aprendam.

E tem mais, o cãozinho é sempre aculturado á pose do dono. Anda como o dono, olha como o dono, rebola como o dono, até pensa como o dono. Nada contra, é só uma observação de todas as poses e seus diversos comportamentos.

Hoje, por exemplo, fui à minha caminhada pela rua e vi algo inusitado: em pleno frio , concordo, lá estava um posudo cachorrinho duma posuda senhora agasalhado com roupa...de oncinha! Acreditam?

Olhei sem pose alguma para os dois e ele me enfrentou posudamente.

Tá certo que é moda, mas convenhamos, o cachorro estava triste, com crise de identidade, eu senti que estava! Cachorro vestido de onça já é pose demais, minha gente. Só pode ser doença. E grave!

Aquilo era uma depressão anti-ecológica! Cadê o IBAMA?

E eu, só queria ajudar. Ah sim , posudo de carteirinha não ajuda ninguém , ok? É um demérito à sua pose. É como possuir uma pose desclassificada.

Olhei para a posuda dona, super fashion, no mesmo tema do modelito do seu cão. Ela, engatou uma marcha mais posuda ainda, aliás, aprendam, posuda que se preza também nem olha para o lado, sob risco de perder a postura da pose!

E nas ruas: Já perceberam a pose dos donos dos luxuosos carros- ônibus? Já sentam numa pose lá no alto...e de lá enfrentam os mesmos congestionamentos da vida dos plebeus. Mudam apenas as acomodações...algo a nos ensinar.

A impressão que nos dão é de que trafegam pela cidade na mais bela alta e solitária pose do mundo! Uma intocável pose.

Ousem olhar para eles e para os seus posudos carrões que chamarão o guarda por danos materiais à sua pose. Qualquer atentado à sua vaidade, um vento a mais ou uma ultrapassagem erroneamente mais posuda, pronto, seremos atropelados como meros plebeus do asfalto que, sem dúvida alguma, é só deles.

E sem direito a pose póstuma alguma!

Ah, essa vida é posuda demais!

Eu poderia citar mil exemplos , porém, deixo para o leitor relembrar e ilustrar este meu texto com a lembrança do posudo que marcou a sua vida.

Curioso mesmo é pensar que tanta pose voltará ao pó dos meros mortais sem pose alguma...com o mesmo cheirinho de barro, seja ele bichado ou torrado.

De resto...o tudo das poses é só a casca, feita duma efêmera e insana vaidade.