DO "RITZ" AO "RATUZ"
Os estudantes sempre têm uma boa piada, aliás, é de praxe que tenham o humor bem rico ainda que com o bolso bem pobre para certas extravagâncias...como comida, por exemplo.
Verdade: comer e estudar fora de casa, ato contínuo, quero dizer, ao mesmo tempo, virou um luxo. Ou se faz uma coisa...ou outra.
Deveras, nunca foi tão caro se comer fora de casa como nos últimos tempos ( e dentro também!), tal fato não é novidade para ninguém.
Mas...tudo é divertido nessa época de vida de universitários, até passar fome.
Lá no final da universidade sempre há os estágios,algumas áreas nem sempre remuneram a contento o faminto estagiário, e ao término dela há também as pós- graduações, ou algumas especializações obrigatórias em certas áreas cujas remunerações quase sempre não permitem ao estudante um sustento mais folgado...para sobreviver...comendo.
Aqui no Brasil, fora os benefíciários das cotas sociais, se paga muito caro para estudar e depois, muitas vezes, muito mais para se trabalhar, é o que percebo pelos tributos que não poupam a ninguém.
E o foco da minha fala de hoje é comida de estagiários de Hospital.
O assunto é calamitoso, principalmente quando se trata de hospital não privado.
Se é comida de hospital seria de "leigamente" mas esperançosamente se imaginar ,ao menos, um cardápio meramente comestível, certo? Digo...seguramente comestível.Seguramente de segurança, ok? Segurança em saúde, certo?
Não, errado. Mesmo para os menos exigentes.
Bem, depende do que se entende por "seguro e comestível", e aqui vou, mais uma vez, deixar a semântica de lado, em homenagem ao MEC.
E foi assim que conheci, outro dia, quando eu passava por ali, uma recente turma de "residentes", explicitando melhor, aqueles médicos em treinamento num hospital, que depois de hora incontáveis de trabalho duro se revezavam para o almoço.
Pelo que percebi se revezavam para comer fora do hospital, e não entrava-se no mérito da questão exterior.
"Aonde você vai almoçar hoje, no RITZ?", perguntou um deles ao seu colega bem magrinho e descorado, meio debochadamente.
" Que nada cara, vou no RATUZ mesmo, bem aqui em frente, rapidinho, ou como ou pago o aluguei,cara, tá demais!" foi o que consegui ouvir daquele diálogo.
"Ah, cê tá loco cara, vai no "morte lenta de novo?" argumentou um outro, "putz, melhor que comer aqui meu, lá pelo menos a gente morre sem perceber", respondeu ao colega.
Achei divertida a brincadeira deles e fiquei curiosa para saber de qual local se tratava o restaurante lá de fora.
Então, por um instante eu os segui com os olhos, e vou lhes contar o que descobri:
O RATUS/MORTE LENTA é o cognome que recebe um boteco em frente ao hospital, de muito mau aspecto, aonde se serve lá um comercial da hora por quinze reais, com direito a um cafezinho, depois que aqueles copos de vidro passam por uma água fervente.
E ainda observei: tudo bem fritinho no fogo alto que é para se ter a certeza de que a esterulização das piores bactérias foi a contento.
Bactérias fritas, eu diria. Sem risco algum, se não tocassem na salada. Daí fiquei mais tranquila, mas fiz as contas, claro.
Bem, se multiplicarmos quinze por trinta, porque residente trabalha todos os dias sem parar por uns bons anos, deduzi que ainda está caro DEMAIS para se morrer lentamente ali no RATUS/MORTE LENTA.
E ainda morrer com fome, claro, fazendo apenas uma refeição ao dia!
Isso é caro demais, mesmo! Uma calamidade pagar e se morrer LENTAMENTE desnutrido!
Eu sinceramente, não poderia lhes sugerir o que pensei, nem os conheço, mas eu optaria por morrer mais rapidamente comendo a comida do hospital mesmo. Acho mais econômico, muito, muito mais barato...e mais digno.
Esse pessoal estuda tanto e na hora de fazer as contas...
Então deduzi: se quiserem frequentar o elegantérrimo RITZ, não estudem ciências médicas...sob pena de perderem a saúde, inclusive.
Estudem qualquer outra área como por exemplo,...ciências políticas.
Ops, me esqueci...que estamos no Brasil, então, se quiserem ser alguém "de peso" nessa vida DAQUI não estudem NADA!
Troquem os ratus das comidas pelos ratos oportunistas!
E, literalmente, esqueçam a semântica. É o que menos importa nessa hora.
E todas as portas dos RITZ e similares se abrirão aos ávidos e espertos estômagos vazios.
Bom cardápio, elegantérrimo, a todos que me leram e aprenderam a lição!