Os três patetas na Amazônia

Eu e dois amigos tínhamos 18 anos na época. Eu tinha um bote de plástico, inflável, no qual só cabiam dois.

Resolvemos pegar uma balsa para atravessar o Rio Negro. O Bote estava na mochila. Ele tem uns 3 km de largura... o rio, não o bote.

Do outro lado do rio, começamos a enchê-lo... o bote, não o rio.

Vimos um igarapé (um pequeno rio que deságua em um maior) com uma correnteza (aqui chamamos "banzeiro") muito forte. Tinha uns 300 metros de largura. Pelo volume da correnteza, o meio deveria ser bem fundo.

Deu no cabeção dos três atravessar o igarapé no bote. Olhamos os três uns para os outros: "vamo" encarar?
"Vamo".
O problema era saber se íamos chegar ao outro lado, com aquela correnteza brava, e como caberiam 3 onde só cabiam 2.
Então eu e um deles ficamos na parte de trás do bote com as pernas pra fora, batendo as pernas na água para "ajudar" o bote a se mover, de costas para o outro, que ficou sentado na frente, guiando a gente, com as pernas para fora e usando as mãos como remo. Nem remo a gente tinha.

Bate perna, bate perna, rema com a mão, rema com a mão.

Depois de muito esforço batendo pernas e mãos, nada de chegarmos ao outro lado. Paramos para ver se dava para voltar, mas as duas margens estavam muito longe, além da correnteza brava nos levando.

Voltar ou seguir em frente, agora, tanto faz.
O que estava na frente teve uma idéia arriscada:

- Vou pular pra ver se pelo menos eu alcanço o fundo, aí a gente tenta nadar se segurando no bote até o outro lado. Eu vejo se dá pra ir em pé pelo menos encostando no fundo e vou puxando o bote pela corda.

Então tá.

Sem olhar para ele (estávamos de costas) concordamos.

Ouvimos o "tchibum!".

Silêncio...

Nós dois de costas esperando. Segundos depois, a voz dele:

- Ei caras, olhem pra cá!

Nos viramos e vimos a cara de "leso" do nosso amigo. E depois a nossa. Lá no meião daquele igarapé, com aquela correnteza veloz, o nível da água não chegava nem aos joelhos. Ele estava em pé rindo de nós mesmos.

Saimos do bote rindo da nossa "abestalhação". Cada um pegou numa parte da cordinha e andamos com a água só até o meio das canelas, arrastando o bote até o outro lado.

Cada uma...