Ri melhor quem ri de si mesmo
Há tempos muito idos (felizmente), eu vivia numa casa meio deteriorada (não por escolha, mas por necessidade) e dividia vida e sonhos com um companheiro (por escolha, sim, e quase todas as minhas escolhas são um desastre).
Eu sentia que minha vida era uma merda: era traída, maltratada, mal cuidada, e o dinheiro não sobrava nem para comprar romance barato em banca de revista.
Numa tarde calma e luminosa estava no quintal estendendo roupa, quando afundei a perna na fossa do banheiro.
A dor foi uma danação - a perna formou um ângulo estranho, parecia quebrada; lavar com antisséptico foi outro inferno. Fiquei sem poder andar por uns dias, e até hoje minha coxa direita tem marcas dos arranhões. Mas tudo isso foi depois: minha reação imediata à surpresa e à dor foi uma enorme gargalhada.
Explico: minha professora de literatura falava o tempo todo em 'coerência textual' e 'licença poética'. Na hora da dor, deu-se em mim uma espécie de 'flash': tudo que eu vivera e vivia no momento, todas as dores, todas as escolhas...
Então sintetizei os dois termos em "coerência fétida" e foi impossível não rir - essa, sim, foi uma escolha es-tu-pen-da!