Francisco Basil de Oliveira, o ferreiro Chico Basil, possui uma impressionante capacidade para contar histórias. Em Várzea Alegre, nos lugares que frequenta - praças, calçadas ou bares - sempre há um grupo de amigos interessado em ouvir suas bem-humoradas conversas. Nas narrativas, o perspicaz ferreiro, com humor inteligente, realça as características de seus personagens. 
 
     No final da década de setenta, em uma tarde de sexta-feira, no início da Rua Coronel Pimpim, Chico Basil caminhava pela calçada quando foi abordado por Francisca Mirtes Bitu Lemos. Com muito jeito e delicadeza, dona Mirtes pediu ajuda ao ferreiro para destravar a torneira do registro geral da água de sua casa.
 
     Interessado em ganhar uns trocados e gastá-los com várias doses de cachaça na vizinha bodega de Maria Araripe, Chico logo se dispôs a resolver o problema da residência do doutor Manoel Gonçalves de Lemos. Com força, o ferreiro tentou girar o registro, mas não conseguiu destravar a enferrujada torneira.
 
     Ansioso por reforçar o orçamento do fim de semana, Chico foi a sua casa, onde moldava e manipulava metais, e trouxe uma pequena barra de ferro. Dessa vez, sem precisar despender muita força, usando o pequeno pedaço de ferro como apoio, Chico finalmente destravou o registro e jorrou água nas torneiras da casa.
 
     Cumprida a missão, Chico se aproximou da simpática dona Mirtes, aguardando receber o pagamento pelo serviço. A dona da casa, com sorriso no rosto, agradeceu bastante ao ferreiro, dizendo:
 
     - Seu Francisco, muito obrigado. Por isso eu e Gonçalves gostamos tanto do senhor.
 
     Triste por não haver recebido nenhuma quantia, Chico Basil saía cabisbaixo quando se reanimou ao ouvir o novo chamado de Dona Mirtes:
 
     - Seu Francisco, Seu Francisco, eu ia me esquecendo. O senhor  se incomoda de deixar esse ferrin aqui? Vai que o registro trave de novo...
 
 
(imagem Google)