NA LÍNGUA DO CÃO

Dizem que os shoppings centers são a praia do paulistano e todos havemos de concordar que a tal crença confere, principalmente quando é dia de praia em pleno feriado prolongado.

Vou resumir a situação: é um inferno a tal praia! Não há como se armar a barraca embora barracos...sejam bem comuns.

Nem é preciso acreditar que em feriadão prolongado a cidade, enfim, tranquilamente será só sua, esqueça, porque haverá milhões de pessoas pensando como você, e mesmo que os outros milhões decidam sair da cidade, todos os shoppings estarão lotados com os milhõezinhos restantes.

Tem praia para todos os gostos!

Homens e mulheres de várias as idades, crianças, adolescentes, idosos, famílias completas desde os papagaios até, claro, aqueles cãezinhos estridentes que desfilam, e que ultimamente são a coqueluche da cidade.

Tem mais cachorro do que gente...nos shoppings centers, inclusive.

E já escrevi por aqui que seus donos não fazem a mínima distinção entre pessoas e cães, aliás, bem...deixa pra lá, não há que se expressar tudo que pensamos. Mas tem alguns...

Porém ,aconteceu comigo.

Recebi um convite para conhecer um shopping mais ou menos novo aqui no pedaço que eu ainda não conhecia e assim aproveitei para experimentar um cafezinho de lá.

Sentei-me na cafeteria e enquanto aguardava o café chegar alguém sentou ao meu lado.

Quero dizer dois alguéns: Uma dona oriental e o seu charmoso e impecável cãozinho saído do pet-shop, cheio de penduricalhos exóticos, e que se sentaram à nossa mesa, cada qual numa cadeira, sem sequer nos pedir licença. O cãozinho super espaçoso.

Eu sei, o cachorro não tinha culpa. Ademais, temos que ser sociáveis, eu sei, eu sei disso! E acreditem, eu juro que sou!

Confesso até que me encantei, ele parecia gente, de fato.

O pelo castor, bem longo, tal qual um daqueles espanadores bem grandes, liso, fino e espanado, e não demorou muito para que eu começasse a ter uma salva de espirros.

Como perdemos uma das nossas cadeiras para o cão, tratei logo de caprichar nos meus espirros para ver se o dono , ou o cão, se sensibilizavam a nos devolver a cadeira, ao menos.

Nada! Tive a impressão que eram meus espirros que incomodavam o cachorrinho sensível.

Então discretamente encarei o cãozinho de certa forma mais incisiva e ele começou a rosnar pro meu lado de modo nadinha social, e nem sombra de nos devolver a cadeira. Ali era só pelo, muito pelo pelo ar!

Comtemporizei." Que foi lindinho, não gostou do meu espirro?"

E ele enfurecido pareceu não me entender.

A confusão estava montada. O cãozinho estridente não queria conversa, teve um ataque de chilique e ameaçava nos avançar por mais simpáticos que quiséssemos lhe parecer. O shopping parou para olhar...a cena canina.

De repente a explicação nos foi dada pela gentil dona: "não adianta queridos, ele não entende e não obedece nada em português!"

Pelo que vi, nem ele e tampouco aquela "dona" dele entendiam minha língua!

E foi num bom japonês que o cãozinho e a sua dona, depois duma meia dúzia de palavras se entenderam e acabaram por sair da nossa mesa.

Nunca vi um cão tão orientalmente letrado!

Eu não entendo nada de japonês, isso é certo, mas pelo jeito, aquele cãozinho dominava a tal língua.

"Arigatô", exclamei a ele...quando já estava bem distante de mim...

Devo ter errado no sotaque da sua língua porque ele continuou enfurecido a nos rosnar...mesmo bem lá de longe...