LAVANDO A ÉGUA


Numa dessas conversas ocorridas em roda de amigos, onde se diz tudo o que vem na telha e nem sempre se fala o que realmente acontece, Jô Formigon deixou a entender que está bem, financeiramente falando, levando as pessoas a acreditarem que agora ele está lavando a égua.
Seus colegas ali presentes, sobretudo os mais interesseiros, passaram a lhe bajular como nunca o fizeram antes. Alguns deles, os mais discretos, até insinuaram a possibilidade de ele lhes conseguir um empréstimo para ser pago em suaves prestações. Outros, os mal intencionados e afoitos, já pediram para que ele seja seu avalista em possíveis financiamentos de imóveis ou veículos do ano.
Para surpresa geral dos bisbilhoteiros da vida alheia, Jô Formigon continua tocando sua vida sem mudar muito o seu jeito de agir e permanece trabalhando no mesmo local de sempre; mudou apenas o seu visual no tocante à forma de vestir-se. Há rumores que fora ele o ganhador de um alto prêmio pago por uma casa lotérica local.
Entre uma suspeita e outra, algumas pessoas já estão vigiando de perto os passos dele. Inicialmente, passaram a fazer plantão na entrada e saída do banco local; mais tarde, na igreja matriz, nos momentos destinados ao ofertório.
As pessoas só ainda não tiveram a curiosidade de visitar seu local de trabalho. Se alguém aparecer por lá certamente irá vê-lo, bem vestido e feliz da vida, carregando um balde com água e xampu, a caminho de uma das inúmeras cocheiras ali existentes.
Fofocas à parte, Jô Formigon não conta a verdade dos fatos para ninguém, contudo demonstra ser um desses trabalhadores fiéis aos seus princípios e padrões morais.
Com bastante dinheiro ou sem nenhum dinheiro, isso não muda em nada o seu modo de vida. Continua lavando a égua, no sentido literário da palavra, e os cavalos também, no haras local...