O Mala & o malinha
O astrotaxi seguia rumo a direção indicada pelo passageiro. Era o Cabaré Tia Jurmejinv, na Constelação de Pluto, criado a mais de 200 ciclos solares e era conhecido por todos pelos dotes peculiares que as fêmeas e, para as chegadas, os machos daquele lugar podiam oferecer.
O motorista, um homem de certa idade, cearense, dirigia coçando a testa pela milésima centésima quadragésima terceira vez. O passageiro lhe enchia a paciência perguntando toda hora se haviam chegado.
- E então? Já chegamos?? – Perguntou o jovem moreno com os seus 20 e poucos anos.
- Meu amigo eu já disse que quando chegarmos lá chegaremos lá...
- Mas é que eu tou doido para chegar lá... então já chegamos?
- Olha seu fio de uma égua. É a milésima centésima quadragésima terceira vez que tu me pergunta a mesma coisa. Se tu não ficar calado eu te jogo direto naquela supernova ali entendeu macho? – Falou o motorista já com vontade de soltar a direção e meter uma sova naquele infeliz.
- Que isso cara... não seja para tanto. Só porque eu perguntou umas duas ou três vezes você tá todo nervosinho aí... calma cara.
- Só duas ou três vezes? Puta... tu é tão chato que nem se toca né? Caraio...
- Pô meu... né pra tanto não... tu tá é exagerando.
- Euuuuuuuuuuu? Exagerando? Computador quantas vezes esse infeliz já perguntou a mesma coisa?
Uma voz sonolenta respondeu a pergunta:
- Este ser perguntou a mesma pergunta mais de 1144 vezes.
- Ahhhhh.. você sabe que os computadores exageram... Então já chegamos?
- CARAIOOOOOOOOO... – gritou o motorista. – Se me perguntar de novo... eu te coloco no espaço e te deixo para os Reapers entendeu?
O jovem se sentou no fundo do astrotaxi e ficou mais alguns segundos calados.
- Finalmente... pô... tem gente que não se toca mesmo. Pensa que ficar perguntando vai chegar no lugar. Parece que bebe...
- Eu não bebo não... eu só quero saber se chegamos lá... já chegamos?
- Já chega... computador travar no passageiro. – Pegou o capacete e enfiou na cabeça do coitado. – Um para transportar e coloque um sinalizador para que os reapers pegue esse infeliz...
- Mas... mas...
- Talvez os Reapers te deixam lá... seu chato... – E o passageiro foi transporte.
(...)
Alguns parsecs de distância depois. O motorista estava parado no espaçoporto do Asteróide M-145 a espera de pegar algum passageiro. Um homem gordo, com as bochechas meio avermelhadas, cabelos brancos e um bigode espesso entrou no astrotaxi.
- Para o cabaré da Tia Jurmejinv.
- Sim senhor...
Mal o motorista sabia que aquele homem era pai do passageiro que jogara a alguns parsecs no espaço. Ele não sabia o que lhe esperava. Depois de meio ano-luz veio a pergunta: - Já chegamos?