CADÊ MINHAS CHAVES?
Era uma linda manhã de inverno, porém o sol bem cedinho já iluminava o meu parque preferido aqui de Sampa.
Como costumo dele dizer, um pedacinho de "milagre verde", uma ínfima amostra de mata atlântica virgem, dentro do tão comum cenário "cinza-seco" da megalópole.
Então, como de praxe, coloquei uma dessas bermudas de pequenos bolsos, para que eu conseguisse correr livremente pelas pistas de cooper com o mínimo possível de objetos: um documento meu, o do automóvel e as chaves do carro.
Chaves incomodam muito e ali julguei que estariam bem protegidas.
Terminado o exercício fiquei eu a descansar, comtemplando a beleza da mata quando, ao voltar dum sanitário, dei por falta das chaves...
Deus! Seria como procurar agulha num palheiro...ou num bueiro, quem sabe?
Teriam elas seguido vaso sanitário abaixo ao escapar do pequeno bolso da bermuda? Entrei em pânico.
Então me pus a refazer as trilhas pormenorizadamente, passo a passo, por todos os lugares que eu havia passado, menos o caminho "água abaixo" do vaso sanitário, obviamente.
Com todos que eu encontrava no caminho do cooper, eu anunciava o que me havia ocorrido, as descrevia, decerto que alguma boa alma me devolveria o fruto da minha distração, caso o encontrasse pelo caminho.
Avisei os jardineiros, o pessoal do estacionamento, a portaria, a limpeza, a administração, uma rede armada de gente para uma missão quase impossível.
Fui e voltei muitas vezes sem sucesso pelo mesmo caminho.
Até que, depois de quatro horas, um cortador de grama milagrosamente as encontrou soterradas dentro dum formigueiro. Pobres formigas! Ninguém tem sossego nessa vida!
Sou-lhes eternamente grata, a elas e ao senhor cortador de grama, que alíás, foi quem me informou que seria um dinheirão fazer novas chaves do carro. Eu não tinha a mínima ideia do quanto custariam.
Dia desses chegando num estacionamento, eu as perdi novamente, porém confortavelmente dentro da minha inacessível bolsa.
Cheguei à conclusão que não é a toa a fama das bolsas das mulheres!
Parti para a custosa procura. Deus!
Eu juraria que as tinha colocado logo por ali...mas, afinal, o quê acontece que nunca encontramos o que guardamos nas nossas bolsas?
Tirei o mundo de lá de dentro até encontrá-las! Percebi o garagista meio impaciente, se não foi minha impressão.
O quê? Dou minhas mãos às palmatórias!
Enfrentar uma bolsa de mulher, de fato, é bem mais difícil que procurar por agulhas num palheiro, ou por chaves num formigueiro.
Aliás, venho percebendo que não existe homem que se mantenha calmo diante duma tumultuada bolsa de mulher...com ou sem chaves perdidas!