DO PENSAMENTO AO ATO... DO "COISA RUIM"
Dia desses, muito incomodado, ele me contava que estava meio desgostoso de ir a Igreja.
Católico fervoroso daqueles que se confessava todo mês, andava meio desconfiado do discurso do padre nas missas dos domingos.
Morador duma pequena cidade do interior, daquelas bem tradicionais, cujos acontecimentos se espalham rapidamente pela vizinhança inteira, sempre se comportara de maneira socialmente impecável.
E não poderia ser diferente, sob pena de ser sumariamente crucificado pelas antigas marocas da cidade, daquelas que dão o veredicto ao pecado, antes mesmo de declarada a penitência do padre.
Sempre se considerou um imune homem "de família", daqueles que pecado algum ousaria bater na sua porta, e sempre acreditou que mesmo para um pecado novo sempre havia um santo velho acostumado a resolver todas as questões.
Porém, me dizia ele, ninguém é assim totalmente "de ferro", a ponto de não cometer nenhum deslize nessa vida, e ademais, tratava de se precaver para que não houvesse nele pecado algum que uma boa reza ao santo recomendado não o recolocasse no reto caminho dum homem da igreja.
E era assim que fazia.
Sempre que se sentia ameaçado até pelo PENSAMENTO do "coisa ruim", era só recorrer aos ouvidos do padre num daqueles antigos confessionários da igreja, daqueles bem herméticos, escuros e isolados, de meter medo na gente, que em baixo tom do padre a penitência logo lhe era dada, endereçada ao melhor santo muito bem recomendado pelo padre, ele já se sentia absolvido até dos pensamentos mais ingênuos, bem como dos mais perturbadores.
Como era difícil não ser pecador com "tanta coisa ruim" por aí, me concluía ele.
Mas um dia...o seu dia de infortúnio enfim chegou..
Certa vez apareceu lá na cidade uma moçoila que movimentou o pensamento dos homens, mesmo dos mais abnegados como ele.
"Sai coisa ruim!" era a oração das marocas da cidade inteira!
E só em pensamento, a coisa ruim lhe pegou, e ele ousou desejar aquela bela mulher por alguns segundos da noite.
Perturbado com o pecado inadmissível do seu cérebro de homem, procurou pelo padre e no confessionário contou-lhe a verdade do ocorrido, com detalhes de todo o seu pensamento. MAs só do pensamento, deixou bem claro.
A penitência logo veio. O padre não poupou-lhe castigo.
Muitas Aves- Marias, Pai- Nossos, Salve-Rainhas, foi sugerido o dízimo em dobro e além do tudo teria que prestar muita atenção na Homilia da próxima missa.
Fez tudo que lhe foi pedido, pagou o dízimo em dobro, mas se sentiu denunciado em público.
No discurso da Homilia o padre lhe direcionou o olhar e começou:
"Saibam meus filhos que pecamos por palavras, por atos, por omissões e principalmente por pensamentos.". E continuou:
"Não pensem, caros irmãos, que o pecado é menor porque foi só pensamentos...temos a obrigação de controlá-los para que não se tornem atos!"-advertia o padre.
Aquilo não seria possível!
Dali para frente, sentia a nítida certeza de que todos os discursos do padre passaram a ser direcionados a ele.
Não teve dúvidas: Tratou logo de sair da cidade e pertencer a outra paróquia.
Queria mudar de discurso para se sentir mais perdoado...e, claro,mais aliviado.
E foi assim que dia desses, depois de visitar um querido amigo que deixara naquela cidade, me contou a fofoca da hora: As marocas todas estavam em corrente de novenas. O padre do discurso fora drasticamente atacado pelo "coisa ruim" e havia fugido ( no ato!) com o fruto daquele seu pecado... que fora só em pensamento.
Nota:
Baseado em fatos reais.