ACONTECEU AQUI - 2 TIRÉIS NA MIRA DO REVOLVER

Vicente Getulio foi um comerciante bonachão, casado com uma santa mulher. Ambos, filhos da terra descendentes dos primeiros habitantes que lançaram neste sertão a semente solidária da paz e harmonia, que até hoje perdura e é cultivada neste Vale do Picão. Queridos pela comunidade inteira o casal Vicente e Rosa deixou sua marca em nossa história. Ele pelas travessuras praticadas com suas bebedeiras, que muitas vezes o levaram para o fundo pôço. Ela pelo sofrimento perseverança e luta com dignidade. Atributos que deu estabilidade a sua numerosa família criada ao meio as turbulências provocadas pelo vicio do marido, que não raras vezes fora a estaca zero economicamente. Mas superando em pouco tempo, tamanho era o dom e tino comercial que ambos possuíam. Vicente se tornou tão obeso que sua circunferência superou a altura, rendendo-lhe o apelido de Rodêiro

Sua casa era aberta aos amigos, inimigos acredito que o casal nunca teve. Ali muitos pobres ganharam seu prato de comida, dentre eles o Tiréis o Ícaro do Vale do Picão que acalentava o sonho de voar.

Rodêiro quando entrava na sua maratona de bebedeira, virava o cão em pessoa, e Tireis que sempre andava aqui e ali comendo à custa dos outros, uma vez que era vacinado contra trabalho. Tornava o alvo principal na mira do seu revolver. Por milagre não ocorreu uma tragédia entre ambos. Quem bem conheceu a história sempre atribuía como proteção à paciência, gentileza e orações de dona Rosa. Uma santa mulher que a tudo suportou sem perder o controle.

Vicente como comerciante era pontual e atuante, mas como alcoólatra também era um terror. Situado próximo ao grupo escolar seu armazém era o mais movimentado na comunidade, isso quando estava sóbrio. Lembro-me do dia em que ele chamou Tiréis e disse: - Tiréis venha cá! –Uai Vicente... Que cê qué? – Te dá um tiro! –Aonde Vicente? –No chapéu fica la emparelhado naquela balança! Quer o tiro com o chapéu na cabeça ou no chão? –Uai Vicente é claro que é no chão! –Então bota logo no chão! –Assim que ele abaixou Rodêiro apertou o gatilho a bala traçou a copa do chapéu um furo e cada lado. Dona Rosa correu, a socorrê-lo, Tiréis tinha enfiado o dedo no buraco da bala e rodava o chapéu! – Qué atirá de novo Vicente?

Dona Rosa interferiu e guardou a arma.

Da sala de aula nós escutamos o estampido do tiro e quase morremos de medo. No dia seguinte já livre da bebedeira, Vicente foi se desculpar com a diretora, prometendo não nos causar mais pânico. Tireis contava o fato com os mínimos detalhes e dizia que da próxima vez iria colocar o chapéu numa estaca, porque era menos perigoso.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 10/06/2010
Reeditado em 13/06/2010
Código do texto: T2311060
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