A beata!

Havia uma senhora, frágil e delicada que morava num vilarejo distante da cidade grande. Beata e dedicada a rezar o Santo Rosário todas as sextas no cemitério. Elevava suas orações em intenção às almas do Purgatório e praticava esse ritual com impecável perfeição e devoção. Dona Joana era mirrada e de aparência cansada, cabelos brancos, rugas marcantes acusando sua avançada idade, mas firme e decidida a nunca abandonar suas preces.

Um dia seu filho, por oportunidade de emprego, decidiu morar na cidade grande e não aceitando abandonar sua mãe, dona Joana vai com ele a muito custo e contrariada.

__Mamãe, tem um cemitério perto de onde vamos morar _ insiste o filho a dar mais ânimo à aborrecida senhora.

Não demorou muito para que os vizinhos se simpatizassem com os bondosos gestos daquela senhora tão risonha e cheia de luz. Chegaram no sábado e no domingo de manhã dona Joana já havia trocado receitas com a maioria de suas novas vizinhas. As crianças a chamavam para ouvir suas histórias e todos diziam que era uma mulher santa, de tanta bondade e luz que brotava de seu coração.

Passada a semana, chegando então o dia de se rezar o terço, lá se foi dona Joana com seu rosário na mão cantarolando hinos a caminho do cemitério.

Lá chegando encontrou um túmulo muito bonito com uma imagem muito linda de Santa Catarina.

__Mas vejam só! Minha santinha de devoção! _ exclamou ela com muita surpresa acreditando ser sinal divino. Realmente, Santa Catarina era sua santa de devoção _. É aqui mesmo que vou rezar todas as sextas minha Senhora, com a Vossa companhia. Falou ela dirigindo-se a imagem.

No túmulo havia a foto de um casal. No canto direito do marido, com um ar imponente e duro no esquerdo o da esposa, com olhar dócil e longos cabelos negros. A senhora fechou os olhos e foi dedilhando seu terço numa total redenção a sua oração.

Quando seus dedos deslizaram para a conta do Terceiro Mistério, uma sombra tapou o sol que ardia nos ombros de dona Joana, e ela estranhando o fato abriu os olhos para verificar se era nuvem de chuva ou algum adulto que a observava.

Qual não foi a surpresa quando a senhora olha ao seu lado e vê uma moça ao seu lado rindo atrás de seus longos cabelos negros.

O espanto foi ainda maior porque dona Joana reconheceu a moça como sendo a mesma da fotografia no túmulo e tão grande foi o susto que a pobre velhinha soltou um berro agonizante e caiu dura no chão.

A moça saiu correndo atrás de ajuda e voltou com o coveiro.

__ Veja! Aqui está a pobre senhora, socorra-a!

__Meu Deus dona! Ela está morta! Disse o coveiro espantado. E depois, olhando a foto no tumulo voltou seus olhos para a mulher e disse:

__ Eu falei pra senhora dona Eulália. Que não era boa ideia a senhora por sua foto aí antes de morrer. Dá azar!