MEU FUSCA ERA ALGO !!
Lá pelos meus dezoito anos, ganhei meu primeiro carro do meu avô, era um fusquinha caindo aos pedaços. Confesso que quando eu o vi pela primeira vez até me assustei pelo estado do danado, como eu sabia que meu avô não era um magnata, mas também estava longe de ser pobre, lhe perguntei certa vez:
- Pô, não estou reclamando, claro que gostei do presente, mas não podia ter comprado um carrinho um pouquinho melhor? E logo um fusca?
Ao que ele me respondeu com a calma e experiência típica das pessoas mais velhas, que já viram de tudo um pouco na vida:
- Sim, eu podia ter comprado um carro melhor, mas tu nunca ia ter a oportunidade de aprender logo cedo que a gente deve começar por baixo para dar valor para as coisas... Além do mais, como primeiro carro, acho que só um fusca pra te agüentar...
Não é que para variar, meu querido avô tinha razão? Logo, logo, eu comecei a simpatizar com o sacana do fusquinha, já tive vários carros depois dele, o primeiro (ou segundo) foi meu avô novamente que me deu e substituiu meu fusca depois que ele achou que eu tinha aprendido a lição... era um Chevrolet Kadet cinza, com uns dois anos de uso... mas não tinha a alma do meu fusquinha... dele eu me lembro como a gente vagamente lembra-se de um caso ou uma transa passageira sem maior importância... mas o meu fusca.. o “Escultura”... (isso mesmo, até nome o canalha tinha)... desse eu me lembro com saudade, saudosismo e alegria.. típicos de um grande amor perdido. Vejam algumas das peripécias que aprontamos juntos:
O Fusquinha Comunitário
Sempre fiz amizade fácil, na base aérea não foi diferente... servi na Banda da Base Aérea de Canoas/RS e fiz muitos amigos. Meu fusquinha também...
Sempre que alguém precisava dar uma “escapada”, seja soldado, sargento ou oficial, chegava e perguntava:
- E daí Fonseca, dá para conseguir o Escultura para eu dar uma volta rápida?
- Claro, mas sabe como é o procedimento... deixa eu ver a carteira de motorista e tem que botar a gasolina e mais cincão (R$ 5,00) do aluguel..
Às vezes era engraçado, porque alguns amigos mais chegados ainda falavam:
- Tu é maluco Fonseca? O “fulano” é barbeiro pra caramba... isso vai dar merda..
- Não sei de nada.. eu vi a carteira de motorista.. problema de quem concedeu pra ele... além do mais, O Escultura agüenta o tranco..
Meu carro tinha tanta coisa dentro que não dava para acreditar, na época organização não era o meu forte.. era um tal de uniforme para um lado, sax pra outro, bola pra lá, pano pra cá..
Numa dessas apareceram com uma cobra que tinham matado.. como meu “espírito de porco” estava no ápice na época... peguei a cobra e botei ela enrolada no assoalho do banco do carona e larguei um pano em cima.. Quando estava dirigindo, sempre tinha alguém de carona.. lá pelas tantas eu pedia com a maior naturalidade:
- Ô fulano, me alcança este pano aí do chão por gentileza...
Quando o pobre incauto pegava o pano e dava de cara com aquela cobra... Bom, a cena era muito engraçada... Pena que durou poucos dias, porque obviamente a finada cobra começou a não cheirar muito bem e tivemos que dar um funeral digno para ela descansar em paz.
A Origem do Nome “Escultura”
Um dia estávamos voltando da base aérea no final do experiente, era véspera de carnaval e estávamos em sete “milicos fardados” dentro do carro (não me perguntem como).. afinal eu precisava “livrar” a gasolina e como a galera não tinha grana sobrando...
Ocorre que enquanto andávamos despreocupadamente pela rodovia, um guri que havia roubado o carro da mãe dele e nem carteira de habilitação tinha, fez uma “barbeiragem” e bateu no nosso carro. Ninguém se machucou, mas o fusquinha ficou com sua lateral dianteira toda amassada, a batida tinha sido de raspão porque consegui desviar um pouco.. mas desde o pára-lama dianteiro, passando pela porta, até o pára-choque traseiro tinha sido danificado.
Ficamos muito putos, pois éramos músicos na época e tínhamos sido contratados para tocar em um bloco no litoral. Era véspera de carnaval e estávamos na minha casa desolados olhando para o fusquinha.. iríamos viajar aquela noite com ele e era consenso que se a polícia nos parasse ia dar merda, pois o carro estava todo amassado.
Depois de tentar sem sucesso algum mecânico para resolver parcialmente o problema, não me abalei... Fizemos um mutirão e resolvemos que nós mesmos iríamos dar um jeito. Munidos de martelos e spray de tinta branca demos um jeito... Não consigo descrever como o fusquinha ficou depois do “conserto”, mas acho que vocês conseguem imaginar...
Nos tocamos para a praia para tocar no “Bloco da Madalena”, o organizador achou engraçado e como o espírito do carnaval era folia, pediu para o fusquinha ir à frente puxando o bloco... com uma sirene instalada.. todo pintado e com um cartaz escrito: - “Apanhemo mais não si intregamo... Nóis num é fraco não...”
Lá pelas tantas, no meio da zoeira algum sacana do público tascou: - Não é que o fusquinha até ficou bonito... com este “conserto” ficou parecendo uma escultura... isso é que é arte moderna...
E o nome acabou pegando...
Bom, hoje eu vou parando por aqui para não me alongar muito, pois as histórias do Escultura dão um livro, qualquer dia desses em conto outras.. rsrs
PARA LER MAIS TEXTOS COMO ESTE ACESSE:
www.cesarfonseca.recantodasletras.com.br
Lá pelos meus dezoito anos, ganhei meu primeiro carro do meu avô, era um fusquinha caindo aos pedaços. Confesso que quando eu o vi pela primeira vez até me assustei pelo estado do danado, como eu sabia que meu avô não era um magnata, mas também estava longe de ser pobre, lhe perguntei certa vez:
- Pô, não estou reclamando, claro que gostei do presente, mas não podia ter comprado um carrinho um pouquinho melhor? E logo um fusca?
Ao que ele me respondeu com a calma e experiência típica das pessoas mais velhas, que já viram de tudo um pouco na vida:
- Sim, eu podia ter comprado um carro melhor, mas tu nunca ia ter a oportunidade de aprender logo cedo que a gente deve começar por baixo para dar valor para as coisas... Além do mais, como primeiro carro, acho que só um fusca pra te agüentar...
Não é que para variar, meu querido avô tinha razão? Logo, logo, eu comecei a simpatizar com o sacana do fusquinha, já tive vários carros depois dele, o primeiro (ou segundo) foi meu avô novamente que me deu e substituiu meu fusca depois que ele achou que eu tinha aprendido a lição... era um Chevrolet Kadet cinza, com uns dois anos de uso... mas não tinha a alma do meu fusquinha... dele eu me lembro como a gente vagamente lembra-se de um caso ou uma transa passageira sem maior importância... mas o meu fusca.. o “Escultura”... (isso mesmo, até nome o canalha tinha)... desse eu me lembro com saudade, saudosismo e alegria.. típicos de um grande amor perdido. Vejam algumas das peripécias que aprontamos juntos:
O Fusquinha Comunitário
Sempre fiz amizade fácil, na base aérea não foi diferente... servi na Banda da Base Aérea de Canoas/RS e fiz muitos amigos. Meu fusquinha também...
Sempre que alguém precisava dar uma “escapada”, seja soldado, sargento ou oficial, chegava e perguntava:
- E daí Fonseca, dá para conseguir o Escultura para eu dar uma volta rápida?
- Claro, mas sabe como é o procedimento... deixa eu ver a carteira de motorista e tem que botar a gasolina e mais cincão (R$ 5,00) do aluguel..
Às vezes era engraçado, porque alguns amigos mais chegados ainda falavam:
- Tu é maluco Fonseca? O “fulano” é barbeiro pra caramba... isso vai dar merda..
- Não sei de nada.. eu vi a carteira de motorista.. problema de quem concedeu pra ele... além do mais, O Escultura agüenta o tranco..
Meu carro tinha tanta coisa dentro que não dava para acreditar, na época organização não era o meu forte.. era um tal de uniforme para um lado, sax pra outro, bola pra lá, pano pra cá..
Numa dessas apareceram com uma cobra que tinham matado.. como meu “espírito de porco” estava no ápice na época... peguei a cobra e botei ela enrolada no assoalho do banco do carona e larguei um pano em cima.. Quando estava dirigindo, sempre tinha alguém de carona.. lá pelas tantas eu pedia com a maior naturalidade:
- Ô fulano, me alcança este pano aí do chão por gentileza...
Quando o pobre incauto pegava o pano e dava de cara com aquela cobra... Bom, a cena era muito engraçada... Pena que durou poucos dias, porque obviamente a finada cobra começou a não cheirar muito bem e tivemos que dar um funeral digno para ela descansar em paz.
A Origem do Nome “Escultura”
Um dia estávamos voltando da base aérea no final do experiente, era véspera de carnaval e estávamos em sete “milicos fardados” dentro do carro (não me perguntem como).. afinal eu precisava “livrar” a gasolina e como a galera não tinha grana sobrando...
Ocorre que enquanto andávamos despreocupadamente pela rodovia, um guri que havia roubado o carro da mãe dele e nem carteira de habilitação tinha, fez uma “barbeiragem” e bateu no nosso carro. Ninguém se machucou, mas o fusquinha ficou com sua lateral dianteira toda amassada, a batida tinha sido de raspão porque consegui desviar um pouco.. mas desde o pára-lama dianteiro, passando pela porta, até o pára-choque traseiro tinha sido danificado.
Ficamos muito putos, pois éramos músicos na época e tínhamos sido contratados para tocar em um bloco no litoral. Era véspera de carnaval e estávamos na minha casa desolados olhando para o fusquinha.. iríamos viajar aquela noite com ele e era consenso que se a polícia nos parasse ia dar merda, pois o carro estava todo amassado.
Depois de tentar sem sucesso algum mecânico para resolver parcialmente o problema, não me abalei... Fizemos um mutirão e resolvemos que nós mesmos iríamos dar um jeito. Munidos de martelos e spray de tinta branca demos um jeito... Não consigo descrever como o fusquinha ficou depois do “conserto”, mas acho que vocês conseguem imaginar...
Nos tocamos para a praia para tocar no “Bloco da Madalena”, o organizador achou engraçado e como o espírito do carnaval era folia, pediu para o fusquinha ir à frente puxando o bloco... com uma sirene instalada.. todo pintado e com um cartaz escrito: - “Apanhemo mais não si intregamo... Nóis num é fraco não...”
Lá pelas tantas, no meio da zoeira algum sacana do público tascou: - Não é que o fusquinha até ficou bonito... com este “conserto” ficou parecendo uma escultura... isso é que é arte moderna...
E o nome acabou pegando...
Bom, hoje eu vou parando por aqui para não me alongar muito, pois as histórias do Escultura dão um livro, qualquer dia desses em conto outras.. rsrs
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