Línguas do Brasil



     Espalhados em um país continental, brasileiros falam português de variadas formas. Mesmo com a imposicão de sotaques pelos meios de comunicação, em cada localidade se preserva o ritmo e a singular maneira de pronunciar as palavras. Contudo, essas diferenças não desagregam o país. Todos se entendem numa só língua, até os mais distantes. Em pouco tempo o Gaúcho do Chuí se comunica facilmente com o Amapaense do Oiapoque.

     Em Macapá, assim como em Belém, na pronúncia peculiar de alguns fonemas, logo que cheguei meu ouvido percebeu certo exagero, um excesso de chiadeira. Parecia panela de pressão fervendo. Bastou ouvir, por exemplo, pessoas dessas capitais informando um número do telefone:

     - Dixque para Treix, doix, doix, doix...

     Porém, como já fui adotado pelo Estado do Amapá desde o início da década de noventa, aqui e ali me flagro dando umas chiadas também. E na mistura com o ritmo carregado e meloso de cearense do cariri, minha fala se torna ainda mais esquisita.

     Desse modo, sempre que retorno à minha terra natal, Várzea alegre, busco policiar o meu sotaque temendo represálias de familiares e amigos. Assim, ainda dentro do ônibus, depois de passar pelo sítio Gamelas, quase chegando à Terra do Arroz, antes de avistar a torre da igreja de São Raimundo, repito baixinho, carregando bem na nossa forma de falar:

     - Titia tem tido muito apetite. Titia não tem hepatite.