Cara ou Coroa

Eu não devia ter mais que 8 anos. Como todo menino, aliás, como todo ser humano, já gostava de dinheiro. Assim, deitado no chão, de boca aberta, usando uma faca de mesa, violava o recheado cofre da minha irmã Flaviana, quando, por descuido, engoli uma moeda que escapou pela fenda da cobiçada caixa.

Logo após sentir o objeto escorrer com dificuldade pela garganta, eu mesmo disparei o alarme, gritando e confessando minha peripécia. Uma correria se instalou em minha casa, todos preocupados com o inusitado acontecimento. Temiam que a moeda entupisse minhas tripas. Naquele mesmo dia fui encaminhado ao vizinho município de Iguatu, onde um médico, examinando uma radiografia de tórax, concluiu que a peça de metal já passara pelos tubos mais delicados do meu aparelho digestivo.

De todo modo, por cautelosa recomendação médica, minhas fezes passaram a sofrer intensa investigação. Fiquei proibido de usar a privada. Somente depois de três dias, o dinheiro foi expelido no quintal da casa de tia Rosa Amélia. Carregando a moeda já um pouco enferrujada ou amarelada por outro motivo, eu e meu primo Serginho corremos em direção à Bodega do meu pai para comunicar a boa nova. Quando chegamos, tio José Cavalcante Cassundé, em meio a fregueses, conversava com meu pai no balcão do pequeno comércio. Diante de todos, “sem papa na língua” e com sua “voz de megafone”, tio Zé do Norte, como conhecido, espantado com o estranho fato, imediatamente comentou:

- Meu irmão Luiz agora enrica de vez. Tem um filho cagando dinheiro.