TIRA GOSTO DE BORRACHA

Manoel Pereira foi um lavrador meio rude protagonista de numerosa família. Daqueles caboclos tostado pelo sol na lida diária das lavouras. Um bonachão, mais inculto do que delicado. Com físico avantajado e seus aparentes caracteres selvagens, adorava pregar peças nos companheiros.

Pura brincadeira, mas para estranhos metia medo. Época em que as estórias de valentia influenciadas pelo cangaço, permeavam o imaginário popular. Manoel não perdia tempo nas brincadeiras.

Morador no povoado do Picão efetuava suas compras de gêneros de subsistência na então Vila de Bom Despacho, a três léguas de sua residência. Após efetuar seu sortimento na venda e colocá-la sobre a montaria, como de costume, tomava sua dose da branquinha e seguia seu roteiro pra casa. Numa destas oportunidades, após o ritual costumeiro solicitou ao comerciante servir sua dose. Ao seu lado um homem de físico desgastado aparentando adoentado. Querendo agradá-lo solicitou servirem-lhe uma dose também. Educadamente, o estranho disse: - agradeço a gentileza senhor, mas eu não bebo! Manoel insistiu, ele afirmou, - obigado, mas não uso! Com seu tom arrogante Manoel exclamou: - bebe sim senhor!Seja... Homem! O homem meio trêmulo obedeceu tomando a pinga. Manoel acertou a despesa dirigindo à montaria o estranho o acompanhou sacou da cintura, uma faca cipó de quase meio metro colocou sua pontinha beliscado seu umbigo e afirmou imitando seu tom de voz – agora é hora do tira gosto! Tu vai comer uma de suas alpercatas ou... Eu lhe empurro este cipó até no cabo. As alpercatas em fabricadas de pneu velho. Segundo contava Manoel, enquanto tentava mastigar a primeira, imaginava, tá danado, se ele resolver que eu coma também a outra, os poucos dentes que me restam vão todos pro beleleu!

Salvou-lhe o comerciante, que interferiu a seu favor convencendo o homem a perdoá-lo. Argumentando ser ele chefe de família, era muito brincalhão, e aquilo não passou de brincadeira.