Cutelo, o Filósofo XX - Currículo
Nosso filósofo atravessava uma fase de extrema pindaíba, "sem dinheiro nem pra andar a pé", quando chegou na cidade uma construtora recrutando empregados para as obras de uma represa na região. Montou escritório com um engenheiro magricela e um auxiliar de escritório reumático. Não deu outra: lá foi o Cutelo se inscrever como "orêia seca".
Passaram-se três dias, nem o filósofo nem nóticias, mandei saber dele na cidade e de repente, a bomba: Cutelo havia sido preso por garessão e desacato à autoridade.
Corri lá para tentar remediar a situação do amigo. Contratado "devogado", fiança paga, sabão do delegado e amigo solto, hora da reprimenda, de "inzemprá" o amigo... Disse:
_Bunito em seu Cutelo, fazendo bagunça, sendo preso e "talecoisa" e "coisaetale", né?
_Dona Druxa, inté a sinhora. Inté a sinhora... Fui cunversá c'o tar de genhero, mor de pidi o imprego e ele fartô cum respeito cumigo. Tasquei nele a mão nas fuça!
_Mas o que foi que ele fez de tão grave?
_Magina a sinhora, quel'óia preu, um home casado, pai de famía, aponta pro culega deslá e fala: cê vai ali e dá o seu cu rico pro rapaz. Quebrei a cara dos doise!
Já em tempo de explodir de rir, mas me contendo para demonstrar zanga, perguntei:
_E o policial, qual foi a bronca?
Respondeu, espumando:
_Essé otro, essé otro! Quando falei da farta de respeito, me gozô. Disse: pro quê cocê num deu? Aí eu mandei ele a pedra noventa.
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* "É o sal da seca que engorda o gado." (Guimarães Rosa)