CARADURA


Durante uma aula da disciplina de Lingua Portuguesa Juquinha e demais alunos da classe foram incumbidos de buscar definições nos dicionários pátrios para uma melhor elucidação do vocábulo “caradura”.

Juquinha precisava sair mais cedo nesse dia e ainda para a infelicidade dele a professora mudou a ordem de arguição dos alunos na classe, deixando-o por último.

Quando chegou sua vez de apresentar a pesquisa feita ele disse ter encontrado várias definições, mas entre elas apenas três chamaram muito a sua atenção.

A primeira delas - disse ele - serve para designar o palito fosfórico, cuja cabeça é formada por um produto pirotécnico semelhante ao fogo de bengala, que é um fogo de artifício que, sem fazer barulho, arde produzindo belos efeitos multicoloridos.

As outras duas se referem, respectivamente, ao bonde misto e ao banco que, nos bondes de passageiros, fica de frente para os demais - finalizou.

Após aquela sua explanação preliminar ele foi amplamente aplaudido pela sua professora e pelos demais colegas e já fazia jeito de sair de fininho.

- Juquinha, fale sobre as outras definições que você pesquisou - incentivou a professora, meio curiosa com o resultado.

- Professora, é melhor deixar como está! - retrucou  Juquinha.

A professora insistiu e ele, sem respirar enquanto falava, despejou:

- Professora,  no mesmo verbete pesquisado eu encontrei outras definições que podem ser usadas, sem nenhum constrangimento, como formas de expressar um pouco da indignação do nosso povo em relação às atitudes contumazes e/ou descabidas provenientes de alguns dos nossos “homens do povo” que fazem da arte de bem governar os povos sua principal fonte de enriquecimento...

- Meus parabéns, Juquinha, a sua pesquisa e respectiva explanação ficaram perfeitas e com um português de alto nível - disse a professora com um ar de quem estava aliviada.

Ele olhou para ela e para os demais colegas de classe com certo desdém e murmurou como se estivesse falando com os dentes cerrados:

- Caras de pau iguais aos outros!