O PRIMEIRO FUSCA
(Uma história real, tragicômica)
Isabel era uma jovem e dinâmica mulher. Morava numa bucólica cidadezinha do interior do Estado do Espírito Santo com o marido e seus dois filhos, grávida do terceiro. Uma família bonita, unida, bem constituída. Isabel uma conceituada professora, diretora do ginásio local. Mas a felicidade que envolvia aquela família partiu com a notícia de um câncer em seu marido e um grave problema renal no seu filho mais velho, um jovem com quatorze anos de idade. No meio dessa enxurrada de problemas, Isabel deu a luz ao seu terceiro filho. Obrigada pelas circunstâncias, deixou o recém-nascido com seus familiares e partiu para Belo Horizonte, para um hospital que oferecia maiores recursos no tratamento de seus entes queridos. Lutou muito se revezando entre eles durante seis meses. Mas infelizmente o epílogo foi muito triste. Numa sexta feira faleceu seu filho e na sexta feira seguinte seu marido. Muito abalada, Isabel voltou para sua cidade natal, vendeu todos seus bens, conseguiu transferência para um colégio na capital e para lá se mudou com seus outros dois filhos. O trabalho passou a ser o melhor remédio para a dor lancinante que machucava seu coração. Como agora era arrimo de família, Isabel se viu obrigada a arranjar outro emprego fora do magistério. A necessidade de locomoção rápida entre os empregos fez Isabel comprar seu primeiro carro, um fusca branco estalando de novo. Dizem que ninguém se esquece do primeiro carro e realmente Isabel nunca se esqueceu do seu. Ainda numa escola de motoristas, num domingo ensolarado, Isabel resolveu se aventurar sozinha dirigindo seu fusca pelas ruas de Vitória. Naquela época o trânsito era tranquilo, poucos carros transitavam pelas ruas. Só que Isabel não contava com o inesperado, um burro fujão que resolveu fazer seu footing pela principal rua da cidade. Isabel viu o burro crescendo... crescendo... crescendo... cada vez mais perto e em vez de frear, gritava:
- Sai burro, saiiiiii burro, saiiiiiiiiiiiii burro!
Obviamente o burro não saiu e com a rapidez do pensamento, em segundos, lá estava ele sentado sobre o capô do fusca com as patas traseiras quebradas. Isabel ajudada por transeuntes tirou o burro do capô, que virou uma bacia do tamanho da sua traseira. Desesperada queria que o burro pagasse seu prejuízo, num monólogo hilariante. Como não obteve resposta do fujão, foi à procura do seu cunhado para ver se ele convencia o burro a pagar. O cunhado rindo muito dessa situação tragicômica, disse a Isabel:
- Cunhada, burro não tem dinheiro, vamos tentar descobrir quem é o dono do burro.
Mas como burro morto não tem dono, até hoje, passados quase quarenta anos, a obstinada Isabel continua procurando o dono do coitado do burro que foi sacrificado naquele mesmo dia. Nunca se conformou com o estrago que o burro fujão causou ao seu primeiro fusca que ainda não estava totalmente pago.
É por essa e por outras que nunca se esquece o primeiro carro que sempre deixa alguma marcante recordação.