A Fé é Dois Terços da Força
O cavaleiro extremamente cansado, a montaria estropiada, já quase afrouxando sob um dilúvio, em altas horas da noite. À primeira tapera de beira de estrada que vê, bate a porta e pede pouso. O dono da casa, com ares de poucos amigos, pede desculpas, mas não pode atendê-lo: a mulher em trabalho de parto já há horas, “o minino trevessado, num sufrimento que soceveno”.
O tropeiro pergunta-lhe se ele acredita em “breves” e afirma saber um, infalível. Esta é a senha: é recebido com pompas e circunstâncias, comedoria, cama limpa e cheirando a naftalina. Uma mão por baixo e outra por cima. Pede papel, lápis, tecido, agulha e linha e confecciona o tal breve que, logo que é posto no colo da dona da casa, esta dá a luz. Mais pompas, mais circunstâncias e matalotagem pra dias, na garupa da mula. Se foi.
O breve fica girando de cafua em cafua, sempre auxiliando nos partos – difíceis e fáceis – na região. Até que depois de muito uso, sujo e lambuzado, alguém tem a idéia de trocar o tecido. A curiosidade sobre o que está escrito é grande também: que espécie de reza braba é aquela? Desenrolam e lêem:
Pasto bão pro meu cavalo,
Cama boa pr’eu drumi.
Poco me importa se a muié pare,
Ou se dexa de pari.
* “O silêncio é um amigo que nunca traí”. (Confúcio)