O MÚSICO
Sempre atrasado e apressado! Animador das tardes literárias, reuniões, encontros, palestras. Seu violão acompanha a todos com um fundo melodioso. Tarde de sábado. A prosa poética rola solta no Cafezinho Literário, o coordenador busca o silêncio ideal para os ouvintes.
Várias poesias, contos e crônicas são declamados com entusiasmo pelos presentes. Meia hora após o inicio do programa, bem no meio da leitura da poesia de Drummond; ele chega! Pede desculpas pelo atraso. Senta e inicia o fundo musical. Rasga solta a leitura de uma crônica. De repente..., o alarido de um samba rock alarma a todos. O leitor, para! O coordenador mostra preocupação! Os ouvintes, questionam!?O violão, para! Ele, sim, ele mesmo, o músico, se levanta! Tira o samba rock do bolso e atende! Alô! Alô!
_Não posso atender agora estou no meio de uma reunião. Ah! O Astra Hatch Advantage 2.0 Flexpower, 4 portas, com airbag e cambio automático? O ano? É 2008. Está impecável. A cor é prata polaris, e apenas 8011 quilômetros. Vendo por uma bagatela. O preço? Quanto? Ah!Somente CR$46.690,00.
Dono de concessionária e músico nas horas vagas não se impressiona com a cara de poucos amigos dos presentes. Após mais alguns minutos de negociação, desliga o celular e volta para o lugar. Retomam as leituras. O coordenador do evento pede para que desliguem os aparelhos celulares.
Rosana tinha na bolsa o celular, presente de uma amiga em um dos seus aniversários. Há cinco anos luta com os dedos e o cérebro para compreender o seu funcionamento. O aparelho está sempre ligado, mas dá para contar nos dedos as chamadas recebidas! As poucas vezes, em que o dito cujo tocou foi para ouvir a voz de quem a presenteara. Sempre nas reuniões o desliga temendo pelo tal do toque. Mas, naquela tarde, após o pedido do coordenador, sem notar ligou o aparelho.
A última crônica foi apresentada. Neste momento uma orquestra inunda o ambiente. O som retumba pelas paredes. Olhos de raiva incontidos se voltam para ela. Ouve um participante falar:
_Inconveniente este celular!
Sem saber como agir e sem saber o que fazer com o aparelho, senta em cima dele, literalmente. Ele continua tocando. O som abafado pela área glútea, a faz estremecer. Como ele pôde tocar? Vergonha?
Termina a reunião. Rosana sai sorrateira. Precisa ligar para o marido. Não consegue! Coloca os óculos e disca os números. Não consegue!Então, lê a mensagem na tela. Bloqueado. O celular está bloqueado!? Não entende! E agora?