DOS ERROS PARA OS ACERTOS (Há uma lógica no erro - Jean piaget)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Alguém havia defecado, na calada da noite, atrás da última sala do pavilhão da direita, para banda da quadra de esporte. Lá funciona o segundo ano “D”, no turno matutino, aquele odor estava perturbando deveras, então os alunos mais saídos começaram a pensar em algumas medidas providenciais. Foram lá atrás, colocaram uma tábua em cima do “cocô”, e como dizem que “bosta quanto mais se mexe mais fede”, o mau cheiro ficou mais intenso literalmente. Portanto, foram pedir ajuda à coordenadora pedagógica, procurando uma situação confortável de aprendizado; ela querendo constatar a veracidade do fato, foi conferir. Eu que já não estava suportando mais a fetidez, tanto quanto aquela movimentação e baixas reclamações por parte deles, tomei a visita dela como uma doce solução, fiquei atento a cada fonema de sua boca. Mas, a coordenadora adentrou à sala de supetão, deu umas duas fungadas e disse que não estava sentindo nada, no entanto, os alunos do fundo da sala estavam com muitos gracejos, riam sem parar, aliás eu não entendo porque o cheiro característico de fezes e/ou “peido” provoca tanta alegria se é que o riso é sinal de felicidade, então naquele momento ela deduziu, por ver só os alunos do “fundão” gracejando, com um ar de incredulidade, e falou:
— Vocês estão com alguma coisa aí no fundo! [sic]
Eu entendi, ela estava querendo dizer que aqueles meninos do fundo da sala estavam aprontando alguma brincadeira de mau gosto. Mas, eles sentiram a necessidade de se explicar:
— Ora, professora, não é no meu fundo, é no lado de fora da sala, eu tomei banho hoje [sic] – falou um mais ousado e os risos debochados dos demais endossaram.
Era um raciocínio coerente para a ambiguidade surgida. Daí a pouco, passaram, ao lado, as mulheres da limpeza com vassoura, balde, pano e rodo. Qual já não era tanto a intensidade do aroma porque agora me simpatizava aquela situação divertida que ornamentou minha aula rotineira de Língua Portuguesa, foi a maior contribuição que já tive de uma coordenadora pedagógica para melhorar a qualidade de minhas tradicionais aulas de gramática e produção de texto! Ali, aproveitei e ensinei boas lições de fonologia, ambiguidade e interpretação textual e, com esta crônica humorística, pretendo retomar o ensinamento e falar de tipos e gêneros textuais. Vou pedir que cada um produza uma crônica humorística, tomando como referência a vida escolar. Assim, pretendo reforçar suas experiências com elogios e disciplina. Dos erros para os acertos o caminho é curto, porém estreito.