O "DE CUJUS"...DO CHEFE!

Ele me parecia um tanto incomodado com um telefonema que acabava de receber do colega do escritório de advocacia.

E não era para menos!

Num final de semana prolongado, justo no meião dum feriado, um colega de trabalho lhe informava num tom solene e setenciador, que pude ouvir e sentir do outro lado da linha:

-O pai do chefe morreu, e foi de repente.

Ele não o conhecera. Mas...conhecia o chefe!

Era daqueles que queria explicações e declarações para cada passo dado e também para os não dados!

O 'de repente " lhe soou como tapa, porque compromissos sociais súbitos não nos permite programações.

Ainda mais se tratanto dum chefe...daqueles!-que exigia programação até para se morrer...

A sentença era simples: teria que comparecer ao féretro sob pena de sucumbência do seu emprego...

"Todos já estão aqui só falta você!", informava o seu colega laconicamente. "Mas eu estou tão longe, será que dá tempo?"

"O seu emprego estará mais longe ainda se você não chegar!", foi o que obteve de resposta."segura aí que tô chegando"-respondeu desesperado e esperançoso.

Então rapidamente preparou a volta, dele e da família.

Quinhentos quilômetros de distância entre ele e o "de cujus" pertencente ao seu chefe, cujo primeiro nome era Antônio. O enterro seria no Morumbi, era tudo o que lhe informaram.

Então, finalmente chegou.Deixou a família em casa e prontamente se dirigiu ao cemitério, como quem vai marcar o relógio do último ponto.

Ao entrar na sala se aliviou ao ler na coroa de flores" Ao querido Antônio saudade dos amigos".

Aproximou-se e até sentiu por ele. Aliás...tinha de sentir!

Respirou fundo, enfim, daria tempo mais que suficiente de se despedir de seu Antônio e de cumprimentar o chefe.

Só que o chefe não aparecia.Procurou insistentemente por ele e pelos amigos.Achou estranho.

Então se dirigiu à administração do cemitério para tentar localizar a famíla do "de cujus".

"Senhor, temos tres cemitérios aqui no bairro"- decerto que foi a explicação mais desesperadora que recebeu na vida.

Ligou do celular para o amigo:"cara, aonde você está?- aqui só está o falecido do seu Antônio!"

Foi então notificado pelo colega de que estava no cemitério errado, com o morto errado, mas com o nome certo. Estava, com permissão da expressão.."ferrado!"

" e nem adianta vir pra cá, que o defunto já foi enterrado, e o chefe perguntou cadê você!" continuou aquele grande amigo.

Tinha que se justificar, e foi quando teve uma brilhante idéia: voltou ao administrador do cemitério e pediu uma declaração de comparecimento ao velório(errado!)"Daria para o senhor colocar o nome do falecido e o horário que cheguei e saí daqui, por favor?"

O administrador nunca vira aquilo! alguém ter que provar que esteve num velório era demais...algo deveras inusitado.

Bem, saiu do cemitério dando nó em pingo d'água, certo de que enrolaria o chefe!

No dia seguinte chegou ao trabalho e foi logo se explicando: "chefe eu sinto muito, eu tentei, mas a coincidência foi demais.O meu tio Antônio, da mesma graça do seu pai, também morreu, igualzinho igualzinho, no mesmo dia e horário, e também foi enterrado aqui, bem do ladinho do seu.

E aqui está a declaração do meu pontual comparecimento...lá!

Será que os "de cujus" morreram da mesma causa, chefe?

Nota: A presente crônica foi baseada em fatos reais.